quinta-feira, 23 de junho de 2016

Fertilização na prática

Na fertilização dá para acompanhar o momento de inserir os óvulos fecundados
Já contei aqui em um post de setembro do ano passado, como chegamos à decisão de ter filhos e expliquei brevemente como foi a fertilização. Vou voltar ao assunto, a pedidos, fazendo um passo a passo do procedimento e contando outros detalhes. Lembrando que falo sempre do ponto de vista de um homem com lesão medular, que é o meu caso. O primeiro passo é definir que método é mais indicado. Para isto, é fundamental consultar com um urologista, preferencialmente um que tenha experiência com lesado medular. Quem faz acompanhamento no Hospital Sarah pode solicitar uma consulta com um urologista de lá. Neste momento o casal já deverá ter definido se o procedimento será realizado na rede pública ou particular.
O urologista deverá solicitar um espermograma para identificar se há espermas de qualidade e em quantidade suficiente na ejaculação retrógrada. Este tipo de ejaculação é muito comum em homens com lesão medular, a ejaculação acontece no ato sexual ou na masturbação mas não sai para fora do pênis, vai para dentro da bexiga. O espermograma então é feito pela masturbação e em seguida um cateterismo, então o médico avalia se há espermas bons na urina. Se houver, pode ser possível utilizar colher os espermas direto na urina ao invés de fazer a punção. A punção é a coleta dos espermas diretamente no testículo.
Fizemos na clínica Vilara, no Hospital Vila da Serra
Em seguida, a mulher consulta com um ginecologista, já na clínica escolhida, para verificar como está sua saúde e definir quanto remédio tomará para estimular a produção de óvulos. No nosso caso, pesquisamos por uns dois meses até escolher a clínica Vilara, que fica no Hospital Vila da Serra. O valor do processo todo ficaria entre quinze e vinte mil reais, a variação se deve à quantidade de remédios que a mulher toma, quanto mais velha, mais remédios. No nosso caso, a Gi estava com 37 anos, tomou o máximo sugerido, e acabamos gastando quase o máximo.
Foram introduzidos três óvulos fecundados, dos quais dois vingaram
A mulher começa então o tratamento tomando os remédios que estimulam a produção de óvulos e o médico vai acompanhando por ultrassons. Assim que a mulher atinge uma boa quantidade de óvulos, é marcada a retirada dos óvulos, e na mesma data é marcada a punção. A Gi produziu oito óvulos, e na data marcada ela foi encaminhada para uma sala onde foi feita uma espécie de raspagem, com sedação leve. Em seguida fui encaminhado para a punção, em uma sala ao lado. Eu poderia tomar anestesia local, mas como minha sensibilidade é pequena na área, dispensei. O médico fez a primeira coleta de espermas na parte externa do testículo, e levou para o laboratório, que fica ao lado. Na hora não resisti e falei para o médico: "é doutor, esse é o único exame em que o paciente não quer ouvir que não tem porra nenhuma!" Todos riram na sala. E logo veio a resposta do laboratória, não tinha espermas de qualidade.
Acompanhar o crescimento deles pelos ultrassons foi muito bom!
Aí o médico fez um corte na bolsa escrotal (o saco),  enfiou a seringa dentro do testículo e retirou mais uma leva. Mandou para o laboratório, e desta vez haviam espermas em quantidade e com boa mobilidade. Logo em seguida já iniciaram os processos para a fecundação. Na sala, outro médico fez o resto do trabalho, costurando a bolsa escrotal. Mais uma vez eu não aguentei e falei: "é cara, esse seu trabalho é um saco." O cara riu muito. E eu completei: "tá vendo, quem manda não sedar o paciente?" Não tem jeito, nem nessa hora eu fico sério.
O ultrassom 3D deu para ver a carinha deles
Aí fomos para casa e aguardamos notícias do médico. Em uns quinze dias eles nos ligaram, haviam fecundado quatro óvulos e marcaram para colocarem no útero da Gi. Fomos para uma sala com telas na parede e pudemos acompanhar a inserção dos óvulos, foram introduzidos três. Foi muito emocionante ver aqueles três pequenos pontinhos sendo colocados dentro do útero dela. A partir de então, fomos acompanhando a evolução dos óvulos em ultrassons semanais. Até a quarta semana, os três estavam crescendo, mas a partir da quinta semana um deles involuiu. Os dois continuaram crescendo e deram origem aos meus filhos, Anne e Max. Vejam no vídeo abaixo meu depoimento sobre a fertilização.

terça-feira, 14 de junho de 2016

O amor da minha vida

Sabe quando tudo parece se encaixar e não precisa mudar nada? Assim é nosso amor!
Nossa história começa em Viçosa, onde estudamos, no final dos anos 90. Na época ela fazia graduação em engenharia civil e eu fazia pós graduação em administração. Uma amiga da pós me chamou para sair e chamei um amigo, e ela ficou de chamar uma amiga também, e nos encontramos em um boteco. Ela era a amiga dela, conterrânea da mesma cidade. Ficamos batendo papo, eu já estiquei um olho para ela e comecei a lançar minhas cantadas infalíveis. Depois de algumas cervejas, dei a ideia de ir para outro bar. Depois de algum tempo jogando charme dei o golpe de misericórdia e a beijei. 
Ficamos juntos até eu levar todos em casa, afinal era o que único que tinha carro. Fui deixar ela em casa por último, e tentei arrastar para “um lugar mais tranquilo”, mas ela resistiu, não sei como. Fui embora e ficamos um tempo sem nos ver, até nos esbarrarmos em uma boate. Conversamos um pouco até ela não resistir novamente ao meu charme. Depois de muitos beijos ardentes usei a mesma estratégia, fui deixar ela e as amigas em casa deixando ela por último. Mais uma vez ela resistiu a ir para outro lugar. Estava se fazendo de difícil.
Depois disso ficamos mais uma vez em um bar, mas eu precisei ir para casa mais cedo já que tinha namorada na época e morava com ela numa cidade perto de Viçosa. Depois disso ficamos muito tempo sem nos ver, alguns meses. Até que um belo dia eu estava comprando pão em uma padaria e a vi. Mexi com ela e ela fingiu que não me conhecia, mas logo se lembrou - afinal, com 1,95 metro eu não era tão fácil de esquecer. Fui levar ela em casa, como estava de bike, fui acompanhando ela a pé. Chegando lá dei uns pegas nela na porta da casa dela. Depois disso começamos a ficar com mais frequência, e ela finalmente descobriu que eu tinha namorada. Depois de me chamar de cachorro várias vezes, caiu na velha história que eu estava mal com a namorada, terminaria com ela logo, e continuei enrolando. Algum tempo depois ela começou a pressionar para eu terminar com a namorada. Aí percebi que a Gi era uma pessoa bacana, gostava mesmo de mim, então terminei com a outra.
Namoramos por quatro meses, até que resolvi partir para novos horizontes. Terminamos algum tempo depois do baile de formatura dela e nos distanciamos um pouco, mas ainda mantivemos contato por e-mail. Eventualmente trocávamos mensagens e nos encontrávamos. Até que, 2006, eu estava solteiro, fazendo mestrado na UFSC em Floripa, e vieram as primeiras férias. Vim para BH e liguei para ela – eu sempre dava uma olhadinha se alguém estava mexendo nas minas gavetas. Ficamos juntos e na semana seguinte fui a Viçosa para encontrar outra ex namorada e no dia de voltar para BH sofri o acidente. Como eu estava na casa daquela ex-namorada, acabamos voltando o namoro. Dali a dois meses acabou tudo de novo, e comecei a namorar uma das enfermeiras do hospital em que eu estava. Nesse meio tempo, o contato com a Gi se intensificou.
Ela estava morando em Salvador, mas disse, em um certo momento, que sempre gostou de mim e mudava pra BH o mais rápido possível se eu largasse a enfermeira e investisse nela. Resolvi aceitar a proposta e em um mês ela estava em BH e reiniciamos o relacionamento. Logo ela já mudou de mala e cuia pra casa dos meus pais, onde eu estava morando, e em pouco tempo nos mudamos para um apartamento "só nosso".
Desde então somos companheiros em tudo, viagens, aventuras, enfrentando os problemas de acessibilidade e para completar nossa linda história de amor, fizemos duas pessoinhas lindas!
Em suma, temos um relacionamento maravilhoso, como já namoramos antes pulamos aquela parte chata dos ciúmes descabidos, das briguinhas bobas, vivemos muito bem há nove anos e meio e nos amamos profundamente. O negócio é ser feliz, independente das diferenças!

sábado, 4 de junho de 2016

Test drive de cadeirantes

Test drive, só "compartilhado"
- Pai, estou querendo trocar de carro.
- Que bom, já escolheu o modelo.
- Sim, já. Mas preciso de uma ajudinha...
- Hmmm lá vem. De quanto você precisa?
- Não é dinheiro, preciso de um test driver.
- De que?
- De um test driver. Um motorista para fazer um test drive por mim...
Esse diálogo é fictício mas pode acontecer com qualquer um que não possa dirigir um veículo que não seja adaptado, como quem sofreu lesão medular e usa cadeira de rodas. Eu mesmo já pedi a um amigo que estava para trocar de carro para me chamar quando fosse fazer test drive em um veículo que me interessava. Porque não podemos fazer test drive? Simplesmente porque não há veículos adaptados para test drive nas concessionárias. Nem em lugar nenhum! Pelo menos aqui em Belo Horizonte.
E porque é importante fazer test drive? O test drive é uma das etapas mais importantes na aquisição de um veículo. Primeiro a gente levanta os fundos – no bom sentido – pesquisa as opções na faixa de preço que podemos pagar, faz um comparativo dos itens de série que cada um oferece, e vai à concessionária conhecer o escolhido para fazer o test drive. Afinal, sentar no veículo é uma coisa, dirigir, sentir a direção, estudar as dimensões do veículo em manobras, e muitas outras coisas só é possível experimentar se fizer um test drive. Só que o comprador é cadeirante, e aí? Como podemos, então, fazer test drive em um carro se não há veículos adaptados para deficientes nas concessionárias? A solução é pedir a alguém de confiança para fazer o test drive por nós. Ou ir a uma feira de tecnologia assistiva, como a Reatech, para fazer o test drive nos veículos que temos interesse. Na feira as montadoras aproveitam para disponibilizar os veículos que tem mais saída para deficiente Se o veículo que a gente quer não está na feira, temos que recorrer ao "test driver" mesmo...
Verificar se o porta malas é bom para acomodar bem a cadeira de rodas
Na impossibilidade de fazer o test drive, que itens devemos observar em um veículo na hora da compra? Em primeiro lugar, devemos testar a facilidade para transferir para o carro do lado do motorista. A primeira observação deve ser em relação à porta. Quanto mais a porta abrir, mais perto vai dar para chegar com a cadeira, e mais fácil será para transferir. O segundo ponto a se observar é a altura do banco. Carros mais altos são mais difíceis para transferir. Mas isto não precisa ser fator de eliminação, pois é possível desenvolver técnicas para subir em carros mais altos sem fazer muito esforço. Só não dá para ser muito difícil, afinal é uma tarefa que será realizada quase todo dia – isso para quem trabalha.
Outro ponto importante é o espaço interno. Isto é especialmente importante para quem é alto, como eu. Como o veículo deve ser adaptado, se a adaptação for como a mais comum, uma barra embaixo do volante para aceleração e frenagem, tem que ter espaço suficiente para passar as pernas embaixo. Eu já machuquei os joelhos em um carro com pouco espaço interno. Outro item que considero crucial - que é opcional, mas muitos carros já tem de série, são comandos no volante. Como temos sempre uma mão ocupada com acelerador e freio, a outra mão deve sempre ficar no volante, e os comandos de rádio, telefone e piloto automático no volante fazem a diferença. Outra facilidade são as borboletas para trocar marcha atrás do volante. Em carro com câmbio automático é desnecessário, mas se for automatizado, elas permitem subir ou descer marchas mesmo no modo automático. Facilita muito em subidas e descidas para manter o motor no giro ideal.
Agora vem a segunda etapa do test drive – o porta malas. Cadeirante que compra carro sem considerar o tamanho e formato do porta malas pode ter muito aborrecimento pela frente. É muito importante verificar se a cadeira de rodas entra com facilidade no porta malas e deixa algum espaço para bagagem. Veja no vídeo acima minhas considerações.

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