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Voltando a fazer trekking depois de anos |
Sempre gostei de trilha, a pé ou de bicicleta. O exercício aliado ao contato com a natureza proporcionam uma experiência revigorante. Antes de virar cadeirante eu praticava mountain bike e trekking, e depois de virar já tinha conseguido fazer mountain bike adaptado, com uma handbike. Faltava o trekking. Já tinha andado de cadeira de rodas adaptada para terreno acidentado em Inhotim, mas não é a mesma coisa que fazer trekking adaptado. Algumas pessoas já haviam me informado sobre a existência de trilhas adaptadas para cadeirantes até mesmo próximo a BH, mas nunca pude experimentar. Até que em dezembro, em férias pelo Espírito Santo, fui informado pelo Marcos Sossai, que trabalha no
IEMA e é meu amigo desde a época de faculdade, que há uma trilha adaptada para cadeirantes no
Parque Estadual Paulo César Vinha, na praia de Setiba, em Guarapari, onde eu estava.
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Entrada do Parque Estadual Paulo César Vinha |
Claro que fiz questão de ir lá conhecer. Combinei de ir à tarde, e como eu estava de carro, ficava mais fácil. Encontrei facilmente a entrada do Parque, fica na Rodovia ES-060, é bem sinalizado por placas e tem um belo portal com o nome do parque e uma libélula em cima, o símbolo do Parque. Ao chegar já estavam me esperando, em frente à recepção do parque, uma bióloga, uma guia e uma fotógrafa, além de outro funcionário do parque. Me orientaram a estacionar o carro próximo à entrada, já que o solo no estacionamento era de pedrinhas. Depois que estacionei e fui até eles, me contaram um pouco sobre a história do parque, sobre o trabalho de conservação realizado no estado e sobre a estrutura do parque, que conta com Centro de Vivência e tem até um painel de geração de energia solar.
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Prédio da Administração e recepção do Parque |
Em seguida me contaram sobre o Projeto Trilha Cidadã, com o objetivo de promover a inclusão social de pessoas com deficiência por meio de atividades de Educação Ambiental e do contato com a natureza. O objetivo é promover visitas de pessoas com deficiência atendidas por entidades assistenciais para assistir a palestras e participar de um roteiro de visitação em trilhas adaptadas com estrutura para deficientes visuais, físicos e pessoas com transtornos mentais. Para deficientes visuais há trilhas interpretativas, com utilização de mapa e um catálogo táteis, e o percurso com pegadas de animais em alto relevo. Para deficientes físicos, foi adquirida uma cadeira de rodas para terreno acidentado, com amortecedor interno e rodas largas, semelhante à que utilizei em Inhotim. Uma falha na estrutura é a ausência de banheiro adaptado para deficientes, que apesar de já estar com projeto pronto, ainda não foi liberado para construção. Espero que as autoridades responsáveis percebam a importância deste projeto e resolvam logo este problema.
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Cadeira de rodas adaptada para terreno acidentado, com amortecedor central |
Como já conheço a cadeira adaptada para trilha, transferi facilmente para ela e me ofereceram luvas próprias, cinto para segurança e garrafa de água para me hidratar no percurso. Devidamente equipado, me explicaram sobre o roteiro, uma trilha de terra e areia chamada Trilha da Restinga, que passa por uma lagoa e chega até a praia por outra trilha. O início do trajeto está um pouco judiado, pois é em uma leve descida que está com um pouco de erosão e buracos. Mesmo assim consegui descer devagar sem ajuda. A cadeira está nova e é fácil de tocar sobre a areia, mas cansa com o tempo. No início, descansado, fiz questão de tocar sozinho e aproveitar o visual ao lado da Gi, enquanto a bióloga e a guia nos falavam sobre a diversidade da fauna e da flora do parque. Muito legal observar as características das árvores e alguns animais enquanto elas explicavam tudo. Ao longo de toda a trilha há também placas com informações sobre a fauna e detalhes da área.
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Mapa e detalhes da Trilha da Restinga |
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Início da trilha, um pouco judiado |
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Trecho da trilha, de chão batido. Mas há trechos com areia fofa... |
O terreno é em sua maioria de areia, firme em alguns pontos e mais fofa em outros, o que me obrigou a pedir ajuda para minha empurradora oficial em alguns trechos. E é na maioria plano, com leves declives. Além disso, o sol ainda estava forte, em pleno verão, e acabamos paramos também em algumas sombras para todos descansarem. Porém, às vezes haviam colônias de mosquitos que nos expulsavam logo, por isso sugiro levar repelente.
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Lagoa de Carais, na metade do caminho |
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Ponte que leva ao cais para passeio de caiaque |
Lá pela metade do caminho chegamos à Lagoa de Carais. Há uma estrutura de madeira com caiaques, parte do projeto de visitação do parque, em que os visitantes vão até a praia remando, mas não tem nenhum adaptado. Elas citaram um caiaque mais fundo que poderia ser adaptado, e ficaram de me mostrar na volta. A lagoa tem uma cor escura, como se fosse Coca Cola, e muita vegetação flutuante. Paramos para curtir o lugar e tirar umas fotos. Continuamos em seguida e nos deparamos com um painel para fotos bem divertido, só que não tinha lugar para cadeirante... ou pra gente baixinha. Podiam ter colcado um buraco na cara do macaco debaixo, eu nem ia achar ruim!
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Painel para fotos, a Gi virou uma verdadeira aventureira |
Depois de uma hora e meia aproximadamente, contando com as paradas, percorremos os mil e quinhentos metros da trilha e nos deparamos com a bela vista da praia e das três ilhas ao fundo, que ficam a três quilômetros da praia. Apesar de próxima, não animei descer até a praia, pois não tinha levado minhas boias de braço... Além disso, voltar para a cadeira seria bem difícil. Se andasse paralelo ao mar por mais o mesmo tanto de trilha, 1,5 km, ia dar no final da lagoa, mas também não animei, estava entardecendo e a volta seria no escuro. Iniciamos a jornada de volta, tranquilamente - exceto nos trechos em que haviam leves descidas, que eu aproveitava para acelerar! Vejam o vídeo ao fim da matéria.
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Ao final da primeira parte da trilha, lindo visual com as três ilhas ao fundo |
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As meninas que nos acompanharam e informaram durante a trilha |
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Vista panorâmica da praia de Setiba |
Valeu pelo visual, pelo contato com a natureza e pelas informações recebidas pelas meninas do parque. Parabéns a todos pela iniciativa e pelo trabalho desenvolvido no parque, que sirva de exemplo para outros municípios e estados.
Boa tarde! Meu nome é Adriana, sou mãe de um adolescente cadeirante e gostaria de saber mais informações sobre o passeio na trilha de Guarapari
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