quarta-feira, 4 de março de 2015

Cadeirante Viajando de Trem pela Europa - Parte 1

Estação Gare du Nord, em Paris
Viajar de trem pela Europa é um costume antigo, até mesmo para brasileiros. Minha irmã conheceu onze países no final dos anos noventa desse jeito. Desde aquela época já existia o Europass, um bilhete de trem válido por determinado tempo, que pode ser usado em várias companhias e vários países. Conheço várias outras pessoas que já viajaram de trem por lá, mas será que funciona para cadeirante também? A resposta de sempre: com planejamento, sim. Portanto programei alguns trechos da minha viagem pela Europa para fazer de trem, principalmente o trecho mais famoso, entre Paris e Londres. Primeiro porque alguns parentes já haviam me dito que era um viagem super rápida e tranquila, segundo porque eu queria ter a experiência de passar pelo Eurotúnel, por baixo do Canal da Mancha, uma obra surreal que atinge 75 metros de profundidade embaixo do mar! Os outros trechos deixei para a Itália, onde iria a três cidades.
Elevador para cadeirantes na estação Gare du Nord
Pesquisei e descobri a RailEurope, uma das empresas que faz a rota Paris-Londres, e perguntei por e-mail sobre a acessibilidade e condições para cadeirantes. Me responderam rapidamente que a acessibilidade é completa, e há vagões adaptados para deficientes.e descobri também que eles tem toda a estrutura necessária para o transporte de deficientes. E ainda, que a viagem ia ser rápida, duas horas e quinze de Paris a Londres, e barata, somente cinquenta euros! Se considerar o deslocamento até o aeroporto, espera para embarque, etc, dá quase o mesmo tempo de viagem. Comprei duas passagens pela internet mesmo, e imprimi o comprovantes, já que teria que trocá-los pelas passagens na estação.
Chegado o dia, após quatro deliciosos dias em Paris, saímos cedo do hotel e fomos para a estação Gare du Nord de ônibus. O trem saia às dez e meia, mas por precaução chegamos às nove e meia. Na hora de trocar o comprovante pela passagem, um problema: naquele trem não havia vagão comum adaptado. Então ganhei upgrade, para a primeira classe! Problemão, heim? Tudo muito rápido e sem questionamento. Passamos pela imigração - afinal estávamos indo a outro país - e fomos pegar o elevador para a área de embarque. Na hora do embarque, trouxeram uma mini-plataforma-elevador, onde o cadeirante entra, a plataforma se eleva e o cadeirante sai pela outra ponta, entrando no trem. No "hall" do vagão havia um banheiro adaptado bem grande e completo. Entrando no vagão, a última poltrona é dedicada ao cadeirante, e há uma cadeira retrátil ao lado para o acompanhante. Como ela não é tão confortável como as outras, falei para a Gi ir na fileira da frente. Os vagões de primeira classe tem somente três fileiras de poltronas, muito largas e confortáveis, com mesinhas de centro, tomadas e sistema de som com vários canais. Logo apareceu uma "ferromoça" - nome que dei para a "aeromoça do trem" - muito simpática, perguntando se estava tudo certo, se eu precisava de alguma coisa.
Banheiro adaptado no vagão de primeira classe 
Poltrona do vagão de primeira classe, muito confortável
Assim como ônibus leito, apenas três fileiras de poltronas, todas reclináveis
Lugar próprio para estacionar a cadeira de rodas
O trem saiu pontualmente no horário, e logo começou a pegar velocidade. A paisagem passava cada vez mais rápido, e ficava cada vez mais bonita. Os campos do nordeste da França são belíssimos, todos bem desenhados, com vários tons de verde, sem contar as fazendas que lembram filmes antigos. Eventualmente apareciam pequenas cidades, com aquelas casas típicas de interior da Europa. Logo apareceram mais ferromoças com o café da manhã, com várias opções, pães, geléias, iogurte, suco, café e, claro, croissant. Tudo com direito a repeteco, uma delícia. Muitas fazendas, pequenos povoados e uma escala depois, chegamos finalmente ao Eurotúnel. Não dá para ter ideia do que está acontecendo, é tudo escuro lá fora e muito rápido, dura uns trinta minutos a travessia. Saindo do outro lado, mais alguns minutos e entramos em Londres. A chegada foi na estação St. Pancras, onde filmaram Harry Potter. Na estação já estavam me esperando com o elevador, mas assim como nos aviões, precisei esperar todo mundo descer para ir para o elevador. Pelo menos é rápido, pois são poucas pessoas por vagão.
Belos campos franceses
Mais um pouco da paisagem do caminho
Estação St. Pancras em Londres
Ao ir embora de Londres peguei um trem também, para ir para o aeroporto de Gatwick. Há trens de quinze em quinze minutos, saindo da estação Victoria. Na estação há linhas coloridas no chão mostrando o caminho para a linha Gatwick Express, que leva ao aeroporto, o que facilita se orientar. Não há elevador, mas sim uma rampa dobrável que encaixa na porta, colocada na hora do embarque. Na hora de comprar o ticket é só informar que é deficiente, e te direcionam para o vagão adaptado. Todos os trens tem vagão adaptado, com lugar para encaixar a cadeira de rodas e poltrona retrátil para acompanhante. A viagem é rápida e não tem serviço de bordo. Na chegada no aeroporto já havia um funcionário esperando com a rampa móvel. Deu tudo certo, chegamos a tempo e pegamos o avião para a Itália. Naquele país experimentei outros trechos de trem, conto no próximo post!
A linha vermelha leva ao trem para o aeroporto. Prático!

Poltrona retrátil para acompanhante no Gatwick Express

3 comentários:

  1. Tudo bem? Estou levando para Europa uma cadeira de rodas. Você sabe me dizer como é que as companhias aéreas tratam ela como bagagem? De mão? Obrigado

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    1. Oi Jason, ela é tratada como bagagem despachada, porém é recolhida na porta do avião e levada ao porão. Ao sair, trazem a cadeira à porta para desembarque.

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  2. Obrigada pelo seu relato, eu e meu esposo vamos para Londres em julho e queremos passar uns três dias em Paris, seu relato foi muito importante!

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