quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Cadeirante na Itália - Modena e Maranelo

O prédio onde a Ferrari começou, a oficina do pai do Enzo
Tudo começou nos anos 80, acompanhando minha mãe assistindo Fórmula 1 nos domingos pela manhã. Conheci Piquet, Senna, Prost, Lauda, Berger e as respectivas escuderias que defendiam. Minha primeira simpatia foi pela Mc Laren, que era defendida pelo Senna. Tanto que pintei meu carrinho de rolimã com suas cores! Mais velho, surgiu a paixão por automóveis, e comecei a estudar mais o mundo da Fórmula 1. Nesse estudo me deparei com a Ferrari, e percebi que era uma das mais tradicionais e enigmáticas do circuito. Foi paixão à primeira corrida, e minha admiração pela Scuderia e pelos carros só cresceu ao longo dos anos. Não poderia, portanto, deixar de conhecer mais um pouco de sua história em minha passagem pela Itália. Enviei e-mails para os dois museus da Ferrari, um que fica em Modena, onde a empresa nasceu, e outro em Maranello, onde fica a fábrica, distante a apenas 20 km. Disse que era cadeirante, perguntei sobre a acessibilidade e expliquei que faria uma matéria para o meu blog. Retornaram rapidamente e disseram que estariam me esperando em Modena, com toda a estrutura necessária.
"Esta casa foi vendida por Enzo Ferrari quando tinha vinte anos para comprar seu primeiro carro de corrida"
Pegamos o trem cedo em Roma e antes das onze da manhã já estávamos em Modena. Sobre a viagem de trem conto em outro post. A cidade é muito simpática, preserva aquele ar de interior, com aqueles belos casarões e igrejas. Pegamos um táxi e fomos direto ao Museo Casa Enzo Ferrari, que fica na oficina do pai do Enzo, fundador da Ferrari, Alfredo Ferrari. Ele é composto de duas partes, o prédio original da Oficina de Alfredo, que seu filho Enzo vendeu para comprar seu primeiro carro de corrida, e outro prédio moderno que conta com loja, lanchonete e um salão que é um museu multimídia, que na época contava a história da Maserati, da qual a Ferrari é proprietária. Rodando pelo salão, em determinado momento inicia-se uma exposição de vídeo em todas as paredes, como se toda a sala fosse a tela. Muito bacana. Fui antes à recepção e me apresentei, e eles já tinham preparado uma van adaptada para me levar ao outro museu, em Maranello, e depois à fábrica.
Interior do prédio moderno do Museo Enzo Ferrari
Interior do salão multimídia com carros da Maserati
Entre dois carros clássicos da Maserati
Fui então para o outro prédio, que conta um pouco da história do Enzo e como ele criou uma das marcas mais famosas do mundo. Há vários motores e carros clássicos e icônicos em exposição, como um Alfa Romeu com dois motores V8 que bateu o recorde de velocidade em 1935. Lá também há um modelo da Ferrari Enzo de 2002 e um bólido de Fórmula 1 de 1987 guiado por Gherard Berger. Tem também uma reprodução de uma sala de reuniões da Ferrari no início de sua vida. Depois de curtir tantos objetos incríveis e sua história, dentro do prédio onde tudo começou, fomos para a van. Era um carro enorme, com dezesseis lugares e elevador para cadeira de rodas na parte traseira. Fui dentro do porta malas e a Gi sentadinha com várias opções...
Sala de reuniões dos primórdios da Ferrari
Alfa Romeo de dois motores recordista de velocidadade em 1935
Ao lado da belíssima Enzo Ferrari, com toda a fúria do seu motor V12
F1 1987 pilotado por Gherard Berger
Chegamos a Maranello, que é uma província de Modena, e gira toda em torno da fábrica da Ferrari. Passamos em frente à entrada da fábrica e paramos em frente ao Museo Ferrari. Nas proximidades há várias lojas que alugam Ferraris - e até Lamborghinis - para uma volta pela cidade. Na entrada há um carro de Fórmula 1 "enjaulado" em um emaranhado de metal. Entramos no museu - só a Gi pagou - e demos de cara com uma reprodução de uma oficina de Fórmula 1, com imagens de todos os corredores da Ferrari ao longo dos anos, inclusive o Massa e o Rubinho. Mas para a frente havia um enorme motor de Fórmula 1 e uma placa de incentivo para o Schumacher. Passando por uma lojinha de lembranças entramos definitivamente no museu, que tinha carros de Fórmula 1 e a reprodução de uma estação de controle de corrida, daqueles que aparecem muito na TV, mostrando os diretores com os nervos à flor da pele. Ainda no primeiro andar haviam carros de GT e outras categorias, destacando as vitórias da Scuderia.
Entrada do Museo Ferrari em Maranello
Olha o Massa e o Rubinho ali
Placa de incentivo ao Schumacher
Alguns Fórmula 1 e um painel de controle ao fundo
Passando para o segundo andar, destaque para um boneco de cera do Comendador Enzo Ferrari em uma réplica do seu escritório. Incrível, muito bem feito, dá para sentir o jeitão italiano do criador dessa lenda. Aí vem uma série de carros históricos e icônicos da marca, antigos e modernos. Há também curiosidades e projetos absurdos, como uma interpretação de um americano do design da marca e um com uma bolha enorme no lugar do para brisa. Mas a cereja do bolo foi uma sala dedicada à La Ferrari, em uma câmara escura, as lâmpadas se apagam e aquela luz roxa acende mostrando somente filetes ao longo do corpo do carro. Tem também um painel demonstrando o funcionamento do Kers. Em outra sala há um carro "no esqueleto", demonstrando como é a estrutura por trás de um superesportivo. No terceiro andar (tudo servido por elevadores, com total acessibilidade) haviam carros protagonistas de filmes e seriados famosos, acompanhados por TVs passando os principais trechos. Essa aí de baixo, uma 275 GTB, foi dita como protagonista de um curta de 1976 pelas ruas de Paris a mais de duzentos por hora. Mais tarde descobriu-se que o filme foi feito por uma Mercedes.
Uma clássica 275 GTB
Comendador Enzo Ferrari em seu escritório
Não é à toa que ela tem um nome feminino, com esta bunda avantajada
Um modelo raríssimo e exclusivo, 599 SA Aperta
Esqueleto de uma 599. Até assim ela é linda!
Chegamos então à sala dedicada à Fórmula 1 recente, com carros que ganharam os últimos títulos (a maioria do Schumacher) e a galeria de troféus da Scuderia - vejam o vídeo mais abaixo. Há também uma mini sala redonda com uma TV e diversos auto falantes, onde você escolhe o carro, de rua ou de Fórmula 1, e ouve o ronco do motor, passando marchas e acelerando forte. Muito bacana. Acabando o tour pelo museu, finalmente ia conhecer a fábrica! Mas ao chegar na saída... um temporal desabava sobre Maranello. A van lá me esperando e eu não conseguia chegar nem perto da porta, de tanto que chovia. Fiquei mais uma hora e meia rodando pelo museu, até a chuva melhorar e me deixar ir para a van. Aí só dava tempo para ir embora, direto para a estação ferroviária. Foi aí que começou o maior perrengue que já passei na vida em viagens! Outra hora conto!
Alguns dos muitos troféus da Scuderia Ferrari

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Cadeirante na Itália - Roma

Em frente ao Coliseu - felizmente não tem leões lá dentro mais!
Como passamos a manhã no Vaticano, teria apenas a tarde para rodar pelos principais pontos turísticos de Roma. Começamos pelo mais famoso, o Coliseu. Pegamos um ônibus adaptado em uma praça próxima ao Vaticano - que acabamos andando de graça, pois quando a Gi foi pagar o motorista não aceitou de jeito nenhum - depois descobrimos que deveria ter comprado um ticket. Andar de ônibus em Roma é tranquilo, não é difícil pedir informações e alguns tem o nome dos lugares mais famosos na frente. Há alguns quiosques de informações pela cidade e neles consegue-se mapas e relações de linhas de ônibus. Um pouco mais confuso do que Paris, mas não é difícil se localizar. Consegui explicar ao motorista que iríamos ao Coliseu e nos deixou bem em frente.
Passamos em frente ao Monumento a Vitor Emanuel II
Estava receoso quanto à acessibilidade do lugar, mas me surpreendi. Chegamos por cima e demos a volta, e como em todos os pontos turísticos, me direcionaram para a entrada. É um pouco irregular, na entrada, mas nada complicado. Lá dentro havia uma fila enorme para entrar, mas fui direto para a entrada e nem precisei pagar, nem a acompanhante. Fomos entrando e nos deparamos com uma plataforma que dá para o centro do Coliseu, onde é possível ver o labirinto que há na parte inferior. O tamanho é de um estádio de futebol, mas o mais legal é imaginar tudo que se passou ali dentro. Voltamos para o anel externo e fomos até um elevador que leva aos andares superiores. Há também uma plataforma para vislumbrar melhor o interior, que estava lotada e o povo se estapeando para chegar na beirada. Fui pedindo licença e cheguei até a beirada, onde pude contemplar a grandiosidade do Coliseu. Incrível. Fomos rodando até o outro lado e descobrimos um mini museu com peças antigas do Coliseu, miniaturas e imagens dele antigamente e hoje. Achei muito interessante uma figura que mostrava como ele era e o que sobrou hoje. Muito legal. Além disso, do Coliseu tínhamos uma vista muito boa do Arco de Constantino e do Templo de Vênus e Roma. Foi um belo passeio.
Vista da primeira plataforma no Coliseu
Na segunda plataforma no andar superior do Coliseu
Arco de Constantino
Templo de Vênus e Roma
Depois do Coliseu pensamos em ir à Fontana di Trevi. Bem em frente havia uma estação de metrô, e já sabia que tinha uma linha direto até lá. Lá dentro havia dois lances de escadas, então pedi para acionarem o elevador de escada (igual ao do Vaticano). Desci no primeiro, mas quando foram acionar o segundo, não funcionou. Acabei voltando e pegando um ônibus. Chegando próximo descemos e fui perguntar a uma turista como chegar lá, mas ela me disse que não valeria à pena pois a fonte estava desligada, em reforma, e seria melhor ir à Piazza Navona, que era mais próxima de onde estávamos. Seguimos o conselho e fomos à praça, rodando mesmo. Chegando lá me surpreendi com a beleza das fontes e o tamanho da praça. Na primeira fonte há uma imagem de Netuno lutando contra um polvo, e cavalos saindo da água. É chamada Fonte de Netuno.
Fonte de Netuno na Piazza Navona
Mais embaixo fica a fonte principal, chamada Fonte dos Quatro Rios, que tem uma escultura gigante vazada no centro e com um enorme obelisco em cima. Há vários elementos compondo a estrutura, como seres míticos, leões e até palmeiras. Fantástica! Descendo mais na praça (ela é enorme) me deparei com mais uma fonte menor e um prédio onde havia uma bandeira do Brasil! Imaginei do que se tratava e me informei, era de fato a embaixada brasileira, que ocupa aquele prédio desde 1920. Santa coincidência, Batman! A turista me mandou pra lá sem saber que eu era brasileiro! Tinha uns latinos tocando sanfona, violão e violoncelo, foi o momento que me senti mais próximo da América do Sul. A Piazza Navona toda é bem descontraída, tem várias tribos e muito espaço para passear. Há também vários restaurantes e bares ao redor, convidam a uma paradinha para comer. Mas não estávamos com fome.
Detalhe da Fonte dos Quatro Rios
Embaixada brasileira na Piazza Navona
A tarde estava caindo e tínhamos que voltar para o hotel, para ir a um restaurante recomendado pelo casal de brasileiros que conhecemos no primeiro dia. Mas como eu estava com vontade de ir ao banheiro, resolvemos andar um pouco e procurar um lugar com banheiro adaptado. Fomos andando pela avenida Corso Vittorio Emanuelle, Rodamos um pouco e passamos pela Igreja Santa Maria in Vallicelliana, mas como lá não tinha banheiro adaptado não entramos. Continuamos nossa via sacra, perguntando em alguns restaurantes sobre banheiro, mas nada. Em certo momento avistei um prédio muito bonito ao final de uma rua, como parecia turístico imaginei que lá teria banheiro. Ô vida difícil de um cadeirante apertado...
Igreja Santa Maria in Vallicelliana
Seguimos até lá e o lugar era o Castelo de Santo Ângelo, já havia lido sobre ele. Atravessamos o rio e conversei com o segurança, ele disse que eu só poderia ir em alguns andares, e sim, havia banheiro adaptado. Fui ao banheiro e depois fui comprar ingresso, que para mim e acompanhante custou... nada. Rodamos pelo primeiro andar e pegamos um elevador para a parte superior. Lá em cima havia um corredor que circula o Castelo e ao longo dele haviam algumas salas com esculturas e peças da idade média. Rodamos, visitamos e percebemos que a vista para o rio era linda, com a Basílica de São Pedro ao fundo. Continuamos e nos deparamos com... um boteco!! Eu fiquei que nem criança quando entra no parquinho. Haviam mesas no corredor e lá dentro, e belas e simpáticas garçonetes atendendo. Nos sentamos em uma mesa onde dava para ver a Basílica e o sol se pondo sobre a cidade. Pedimos duas taças de vinho branco e veio um prato com uma mistureba de tira gosto. Tinha batata chips, azeitona, morangos bêbados (em uma taça com açúcar e licor), queijos e mini sanduíches! Para provar vejam a foto abaixo! Curtimos o fim de tarde e o pôr do sol, ao anoitecer saímos do Castelo.
Castelo de Santo Ângelo
Pôr do sol com a Basílica ao fundo
Isso que é acompanhamento!
Fomos rodando pela beira do rio e passamos por um prédio antigo e um carrossel! Com cara de ter uns mil anos, todo decorado. Mas infelizmente estava fechado. Ao longo do rio havia vários camelôs vendendo diversas bugigangas, de discos de vinil a mini estátuas. Mais à frente nos deparamos com o belíssimo prédio do Palácio da Justiça. A esta altura já havíamos abortado o restaurante, então resolvemos pegar um táxi até o hotel. Pegamos uma perua Stilo, carro inexistente no Brasil, e o taxista falava perfeitamente inglês. Fui batendo papo com ele contando que já tive um Stilo no Brasil, e que lá era carro chique. Chegando perto do hotel, resolvemos comprar um lanche pronto em um botequinho e levar para o hotel. Dormimos cansados mas felizes pelo dia divertido por Roma! No dia seguinte, Modena e Maranello! Conto no próximo post!
Carrossel histórico às margens do rio Tibre