segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Madri para cadeirantes

Um dos símbolos de Madri
Neste mês realizei mais um sonho antigo: fui à Europa para conhecer alguns países. Eu e Gi começamos pela Espanha, na capital Madri. Escolhi a cidade porque era uma boa alternativa de entrada, e tinha boas referências da família. Reservei antecipadamente um hotel próximo ao aeroporto, pois ficaria somente um dia e meio na cidade, e viajaria para Paris no dia seguinte. Reservei pelo Booking.com o Barajas Plaza, que tinha quarto adaptado, e enviei uma solicitação especial informando que era cadeirante e precisava do quarto e banheiro adaptados. Alguns dias depois recebi a resposta do Booking informando que o hotel havia confirmado meu pedido.

Plaza Mayor, com um divertido Homem Aranha
Depois de dez horas de viagem, chegamos a Madri de madrugada, às cinco e meia da manhã. Até sair do avião - por último, como sempre - pegar mala e passar pela imigração, já era quase sete. Já tinha visto que o hotel ficava a menos de três quilômetros do aeroporto, mas ir andando não ia rolar. Poderia pegar um ônibus ou o metrô, mas dado o cansaço achei melhor pegarmos um táxi, afinal não poderia ficar muito caro. Poderia sim... Em poucos metros rodando reparei no taxímetro: vinte euros. Perguntei ao motorista o motivo do valor e ele me explicou que o valor mínimo era aquele, já é padrão. Nunca paguei tão caro para andar tão pouco. Mas já estava feito, fazer o que.

Quarto meia boca no Barajas Plaza
Chegamos ao hotel quase oito da manhã, expliquei que solicitei check in antecipado mas o atendente me disse que não poderia entrar antes das nove da manhã. Reclamei mas achei melhor aguardar no hall, onde haviam alguns sofás. Perto das nove horas chegou uma senhora, que me pareceu ser proprietária, e agilizou o quarto. Porém, veio com más notícias. Me explicou que o quarto adaptado para deficientes era de solteiro, e ofereceu um quarto comum. Expliquei que meu problema era o banheiro, e fui até um deles para ver se dava. Nada feito, minha cadeira nem entrava no banheiro. Pedi então para trocar a cama do quarto de deficiente, descansamos ali mesmo por uma hora e pouco, e fomos para o quarto "adaptado". Entre aspas sim, para minha infelicidade. O quarto era pequeno, a cama de casal ocupou o espaço todo, e ao lado havia uma parede que atrapalhava aproximar com a cadeira. Além disso, o banheiro, apesar da porta grande, tinha um box pequeno, e ainda sem cadeira higiênica. Como era só uma noite, e a gente ia passar o dia na rua, pedi um banco plástico e fomos conhecer Madri.

Pracinha no bairro Barajas
A dona do hotel me indicou a melhor maneira de rodar pela cidade: de metrô, pois havia uma estação próxima ao hotel. Fomos andando (e rodando) até a estação, passando por uma bela pracinha e uma igrejinha que me lembrou o jogo Assassin's Creed, em estilo medieval. Na estação me informei com a atendente como chegar na Plaza del Sol, nosso primeiro destino turístico. Ela fez algumas ligações e deu o caminho, eu teria que trocar de trem duas vezes, pois em uma das estações o elevador estava quebrado, portanto não dava para trocar uma vez só. Mesmo usando três linhas de metrô, a passagem custou somente dois euros por pessoa. O metrô de Madri imenso, tem várias linhas e cobre os principais pontos da cidade. É possível comprar passagem em máquinas automáticas, escolhendo o destino, mas é importante procurar saber sobre a situação dos elevadores, pois em algumas estações eles não funcionam.

Plaza del Sol, num belo dia de sol
Chegamos à Plaza del Sol, que conta com várias ruas fechadas bem charmosas e dezenas de lojas e restaurantes. Paramos em um restaurante para comer e resolvi experimentar as "Patatas Bravas" por recomendação de um amigo, e descobri que são batatas com um molho muito apimentado! Obrigado, heim Pedro? Se não fosse a cerveja estaria cuspindo fogo até agora... Só recomendo se a pessoa gostar muito de pimenta. De lá, resolvemos pegar um ônibus de turismo, há duas linhas que passam pelos principais pontos turísticos. Você paga uma vez só e pode descer e subir quantas vezes quiser. Há passagens válidas por um dia, dois ou uma semana, fiquei com um dia só. Não é barato, foram 21 euros por pessoa, mas vale a pena. Você ganha um fone de ouvido e coloca na lateral da poltrona, e escolhe a língua em que quer ouvir a narração da viagem. Tem em português, mas estava muito ruim o áudio e preferi ouvir em espanhol mesmo. Dá para entender.

Vista do Palácio de Comunicaciones
Passando por uma praça, a Gi observou um prédio antigo bem alto e um pessoal andando lá em cima, aí resolvemos descer. O prédio era o Palacio de Comunicaciones, localizado na Plaza Cibeles. Nesta praça tem um monumento que, para mim, é o monumento ao cadeirante, composto de uma mulher em uma cadeira sobre rodas puxada por dois leões! Atravessamos as avenidas e chegamos ao Palácio, e na hora estava tendo uma manifestação. Não sei quem eram ou o que pediam, mas tinham muitas faixas e cartazes, e a polícia estava na área. Mas não teve barraco, tudo pacífico e organizado. Entramos para saber o que tinha lá em cima, era um snack bar muito bacana e tinha acesso para cadeirantes. Subimos pelo elevador e lá em cima tinha um lance de escadas, mas havia um elevador lateral, de corrimão. Vi muito isso em Madri, até mesmo para vencer dois lances de escada. Lá em cima desfrutamos de deliciosos drinks e de uma belíssima vista da cidade e de brinde um belo por do sol.
Plaza de Cibeles, pra mim, monumento ao cadeirante
No dia seguinte fomos para Paris. Mas deixei mais um dia e meio para Madri, pois pegaria o voo de volta lá. Voltando de Roma, chegamos em Madri meio dia e pouco, desta vez escolhi o Íbis Aeropuerto Barajas, que acabou sendo o melhor hotel da viagem. Quarto espaçoso, banheiro bem adaptado e preço justo, só cinquenta e dois euros a diária. Como cheguei com muita dor não saímos do quarto. No outro dia fomos (de metrô) ao Santiago Barnabéu, estádio do Real Madri. Caro para entrar, não animei, queria mesmo ir na loja do clube, que mais parece um shopping. Tem tudo quanto é produto do Real Madri, eles sabem fazer marketing do time. A propósito, só há dois times no mundo que tem uma Tríplice Coroa, eles e o Cruzeiro Esporte Clube.
Mostrando aos espanhóis quem comanda o Brasileirão...
Depois disso fomos ao Palácio Real, que é a residência oficial do Rei da Espanha. Assim que entrei me lembrei da frase mais famosa do último rei, Juan Carlos: "porque no te callas!" Fiquei repetindo e a Gi ficou brava porque achou que eu estava mandando ela calar a boca! O Palácio tem um pátio central amplo, com chão irregular, mas não muito incômodo. As entradas para cadeirante e acompanhante são gratuitas, e uma pessoa te acompanha para acessar o Palácio, pois é preciso pegar um elevador escondido.
Trono do Rei e da Rainha
Dali fomos ao Mercado de San Miguel, uma espécie de Mercado Central sofisticado (quem é de BH sabe do que estou falando). Depois fomos  à Plaza Mayor, uma espécie de quarteirão fechado com vários restaurantes. No caminho há calçamento de pedras, meio desconfortável, mas tolerável. A praça mesmo é de pedras também'. Paramos em outro restaurante e comemos Tapas e Pincho, especialidades da Espanha. Gostei de Tapas com Ramon (que é carne da coxa de cedro defumada, muito gostoso) e Pincho é uma espécie de omelete recheada com batatas, muito bom também.
Mercado de San Miguel
Resumindo, Madri é um destino muito interessante e divertido, e leva a acessibilidade a sério. O metrô é a melhor opção de locomoção, mas é necessário se informar sobre os elevadores. De ônibus também é tranquilo para rodar pela cidade. Há alguns locais com chão de pedras, mas nada horrível para rodar. Há muito mais atrações do que se supõe, as pessoas são muito simpáticas e solícitas, e come-se muito bem nos restaurantes de lá. É uma cidade cosmopolita e divertida, vale a pena conhecer. Sem contar que é uma ótima alternativa de entrada na Europa.
Até pequenas escadas tem acesso!

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