quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Cadeirante viajando para o exterior

Rindo só no começo da viagem...
Desde que resolvi ir aos States buscar minha cadeira de titânio (vou fazer um post sobre ela depois), entrei na maratona de preparar a viagem para fora do país. E preparei o bolso também, gasta-se muito mais do que eu imaginei. Só com o visto, tem uma taxa de mais de trezentos reais e ainda tem que ir ao Rio de Janeiro para entrevista, mais uma facada de passagem aérea. Mas a facada é só o começo do suplício para um cadeirante. Aí me perguntam: que tipo de cuidado um cadeirante tem que tomar numa viagem destas?
O primeiro desafio é a viagem de avião. Chegando ao aeroporto, já rola uma tensão sobre o embarque. Será que vou viajar mesmo na primeira fila? Será que vão saber me ajudar na transferência para a poltrona? Quanto à primeira pergunta, por incrível que pareça, pode ser um problema. Eu geralmente fico tranquilo, mas a Gi sempre fica tensa. Acontece que a primeira fila não tem como reservar na compra, pois ela é "bloqueada" para pessoas com deficiência ou outra dificuldade de locomoção. Bloqueada entre aspas, porque nem sempre é assim. Tanto que este foi um problema que tive. Chegando ao check-in, me disseram que as poltronas seriam na fila 15. Eu disse que tudo bem, só que teriam que me carregar até lá, pois eu não ando. É por isso que fico tranquilo, quando falo isso e eles olham para meu tamanho, correm atrás de mudar o assento logo. E foi o que fizeram, alteraram o assento para a primeira fila. Tudo bem, sentei ali, iniciamos a viagem, mas na escala, em Santo Domingo, na República Dominicana, tive que sair do avião, junto com todo mundo, para uma vistoria que é obrigatória naquele país. E na volta para o avião... apareceu outro dono do assento. A aeromoça explicou que eu era cadeirante e precisava viajar ali. Meio emburrado, o passageiro foi lá para a 15ª fila.
Aí vem o vôo. Enfrentar mais de dez horas de vôo não é fácil para ninguém, ainda mais para um cadeirante. Isso porque a gente não tem como dar aquela esticadinha no corpo, levantar um pouquinho, esticar as pernas, ou mesmo sentar de ladinho. O máximo que conseguimos é mudar um pouquinho a posição. Como viajamos na primeira fila, costuma ter um pouco mais de espaço, e a dica é colocar o pé na parede e esticar as pernas. Outra dica: fazer elevação na poltrona frequentemente. Para quem não sabe, elevação é apoiar nas laterais e levantar o corpo. Isso ajuda bastante a minimizar a pressão nas nádegas e as dores. Eu devo ter feito umas 20 elevações na viagem.
Mini cadeira para deficiente ir ao banheiro
Outro problema grave é o banheiro. Como ir a um banheiro de avião sem andar? Vou contar um pouco sobre isso. Na viagem de ida, fui ao banheiro na escala, em Santo Domingo. Foi bom porque estava bem na hora de fazer outro cateterismo (faço de seis em seis horas). Sem problema. Mas na volta... A parada na escala foi com duas horas e meia de vôo. E ainda tinha mais quase sete horas pela frente... Após reembarque, outro dono do assento apareceu. E a comissária novamente teve que convencer que eu precisava ficar ali porque não andava. Mas as poltronas não são bloqueada? Que nada, o cara mostrou as passagens (ele e mais um) exatamente na primeira fila. Sacanagem né?
Pelo menos funciona, mesmo para um gigante
Dali a três horas, precisei ir ao banheiro. Solicitei ao comissário de bordo e ele explicou que há uma cadeira própria, e ele me ajudaria na transferência para dentro do banheiro. Aceitei o desafio e ele trouxe a cadeira. Ou melhor, a mini-cadeira. Ela é muito pequeninha, mas funciona. Transferi para ela e fomos tentar entrar no banheiro. Foi um desafio. Dois comissários ajudando, mais uma comissária no apoio moral. Me apoiei na pia do banheiro, e o comissário segurou no meu braço e me empurrou para dentro. Senti falta de uma alça mais colocada na porta do banheiro, ajudaria muito na transferência. Enfim, o comissário meio sem jeito conseguiu me ajudar e sentei na beirada do vaso. Aí consegui acabar de sentar. Minha namorada entrou comigo e me auxiliou no cateterismo. Não pensem bobagem, afinal é um fetiche transar no banheiro do avião, mas pelo tamanho daquilo, nem contorcionista consegue. Ela coube em pé entre minhas pernas, mas ajudou pacas.
O espaço é beeeeem apertado!
A volta foi diferente. O comissário sugeriu que eu me "pendurasse" no pescoço dele e aí me puxaria para fora. Fiz isso, e deu certo, mas foi meio desconfortável, afinal eu quase abracei o cara. Enfim, é difícil o processo, mas possível. A ideia que tive foi levar um banquinho daqueles dobráveis, tipo de praia, de alumínio, pequenininho, e colocar em frente ao vaso. Aí o cadeirante transfere para ele, e depois para o vaso. Isso resolveria o problema, para não precisar de ajuda. Se houvesse um banquinho assim no avião, resolvido.
Detalhe interessante: no nosso vôo, na ida e na volta, o presidente da Gol, Paulo Kakinoff, estava presente. Na ida, só descobri porque o comissário estava meio nervoso e nos contou. Já na volta... o avião precisou fazer uma escala para abastecimento em Brasília, que não estava programada, e chegando lá perto, ele se levantou e foi lá na frente dizer quem era, e que estava ali para ver como estava essa rota, e saber os problemas que os passageiros estavam enfrentando na viagem. Corajoso o cara. Logo que o avião pousou em Brasília, umas quinze pessoas "voaram" nele para reclamar. E ele com um iPad anotando as reclamações. Até o fim da viagem, em Guarulhos, o cara ouviu muuuuito. Até da Gi, que ficou esperando minha cadeira chegar e eles não a encontravam no porão. Ele perguntou e ela: "não encontram a cadeira dele, é novinha, de titânio!" Por sorte encontraram ela depois...Mas foi tenso!
No fim das contas, essa escala em Brasília atrasou a viagem, que durou mais de 13 horas no total! Cheguei extremamente cansado, com muita dor e com sono, afinal não consigo dormir naquelas poltronas minúsculas. Mas valeu a pena, me diverti muito e trouxe minha Ti Lite. Vou contar mais nos próximos posts!

32 comentários:

  1. Só fiz uma viagem grande depois da lesão, lá pra "zoropa", e também tive meus perrengues. Mas nunca usei essa cadeirinha, um dia vou pedir só pra testar rsrsrs.

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    1. Achei ela bem legal, nada confortável, mas eficiente. Para circular em locais estreitos, é ótima!

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  2. as poltronas da 1ra fila sao vendidas sim, tem que pagar um "extra" no check-in, já me obrigaram a pagar e noutras ocasiones já vi gente reclamando porque pagou e a poltrona estava ocupada por mim, por isso faço questao de chegar no aeroporto cedo qdo viajo.

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    1. Sim, foi o que descobri, só são bloqueadas para quem compra passagem econômica. Chegar cedo ao aeroporto é uma boa ideia, mas acaba ficando mais cansativo.

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  3. Muito legal essa troca de experiencias Ale...e como sempre, eles não estão preparados! Mas tenha certeza que isso vai melhorar a cada dia, e vamos ganhar o nosso espaço. Beijos

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    1. Obrigado Débora! Infelizmente tem muito a melhorar, mas nossas vozes juntas podem fazer a diferença! Beijão!

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  4. Alessandro, muito legal seu blog. Uma pergunta: a pressurização do avião causou algum incômodo ou dor extra? Abs.

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    1. Nunca senti incômodo anormal devido a pressurização, só mesmo aquela dorzinha chata no ouvido!

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  5. Oi Alessandro!

    Em primeiro lugar quero dizer que adoro seu blog! Sou sua xará, me chamo Alessandra e meu marido necessita do uso de cadeira de rodas.
    Iremos à Orlando em set e queria tirar umas duvidas contigo:
    1) Vc andou nos brinquedos? Em alguns sei que a transferencia é tranqüila, mas em outros, como o Piratas do Caribe, a transferencia deve ser complicada né? E eles realmente não ajudam?
    2) Vc alugou cadeira motorizada? Se alugou, a bateria rende o dia todo? E como vc fez pra calibrar?

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    1. Oi Alessandra, belo nome você tem! Quanto a suas dúvidas, a primeira será respondida no próximo post, vou falar sobre os brinquedos. E a segunda, não aluguei cadeira motorizada não, só usei os carrinhos elétricos que tem disponível nos supermercados.

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  6. Oi Alessandro, meu nome é Nilma tb sou cadeirante e estou planejando uma viagem para os EUA em julho deste ano.Estou com receio pois terei q viajar sozinha, meu irmão mora la e estara me esperando no aeroporto vc acha q terei mta dificuldade por esta sozinha?

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  7. Você expõe muito a sua intimidade, acho agressivo isso. Ninguém fala quantas vezes caga, como caga... então, devia guardar certas coisas com você. Outra coisa que acho, parece que você não se desligou da vida de "andante", tem de aceitar sua realidade, "digo" isso não por mal, mas é que acompanho alguns comentários do seu "diário" on line e "vejo" que você se quer "fala" sobre o contato com pessoas na mesma condição que você, isso dá a impressão que você mesmo não gostaria de ter contato com pessoas com algum tipo de limitação, além de reclamar de tudo!!!

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    1. A ideia do blog é justamente contar a intimidade de um cadeirante, e através disso tenho ajudado diversos cadeirantes de todo o país. Se te agride esta postura, é só não ler o blog. Aceito plenamente minha condição, o que defendo é justamente que o cadeirante se integre na sociedade de forma que sua condição não seja evidente em nada. Tenho muito contato com pessoas com deficiente, todos os dias, seja através de e-mail, chat, facebook, etc, tenho uma colega de trabalho e outros conhecidos na minha cidade, só não nos encontramos mais por falta de tempo. Enfim, se está incomodado(a), é só não ler o blog.

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    2. Acho que esse cara só quer te trolar. Nada a ver o comentário dele. E eu resumiria a resposta que você deu a ele assim: FODA-SE!

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    3. Poooxa nada a ver o cara falou, meu marido tem distrofia muscular e não anda sozinho. Queremos viajar para a Europa e minha maior preocupação é o banheiro, ou seja, esclareceu uma enorme dúvida. Muito obrigada por compartilhar sua experiência.

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    4. Obrigado! Nem presto atenção a este tipo de comentário, com certeza não é deficiente nem faz ideia das nossas prioridades. Abraços

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  8. Desculpa se ofendí você, não era essa a intenção, fiz apenas críticas construtivas... mas cada um tem uma maneira diferente de interpretar, seja ela agindo de maneira natural ou assim, agressiva.
    Essa necessidade exarcebada que você tem em mostrar que é capaz de tudo, o tempo todo, pode acabar sendo cansativa para as pessoas, principalmente as do seu convívio. Assim como recomendou a mim, não entrarei mais em seu blog, mas pense no que eu "disse" a você... as pessoas as vezes podem se cansar desse repertório... Fique bem!

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    1. Você faz afirmações como se me conhecesse bem e aos que me cercam, e não poderia estar mais equivocado. Não tenho necessidade de mostrar que sou capaz, simplesmente faço o que gosto e tenho vontade e mostro no blog para servir de inspiração a pessoas que acham que não são capazes. Quanto a cansar as pessoas do meu convívio, dê uma olhada no meu perfil do Facebook para ver se encontra alguém com esta característica.

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    2. Você faz afirmações como se me conhecesse bem e aos que me cercam, e não poderia estar mais equivocado. Não tenho necessidade de mostrar que sou capaz, simplesmente faço o que gosto e tenho vontade e mostro no blog para servir de inspiração a pessoas que acham que não são capazes. Quanto a cansar as pessoas do meu convívio, dê uma olhada no meu perfil do Facebook para ver se encontra alguém com esta característica.

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    3. Esse mala ainda não entendeu que o seu público-alvo são outros cadeirantes, como é o meu caso, e pessoas bem próximas que também querem saber das suas experiências, para tirar dúvidas ou compartilhar experiências também. Eu mesmo pretendo viajar ao exterior pela primeira vez e estou cheio de dúvidas quanto à viagem de avião, em razão das longas horas, tendo que fazer o cateterismo, aliviar a pressão sentado por tanto tempo, etc.

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  9. Ei, Alessandro!

    Sou cadeirante também e fiz uma viagem para a Europa em dezembro do ano passado. Não tive como reservar a primeira fila e fiquei beeeem lá atrás. Usei essa cadeirinha de bordo no vôo de ida e volta, bem como em todos os vôos entre os países, já que lá também não consegui reservar a primeira fila. Mas em todos foi muito tranquilo, exceto na volta para o Brasil.

    E sobre isso, queria alertar os cadeirantes em relação ao tratamento da TAP. Acho bom que podemos fazer a solicitação de auxílio (no meu caso, viajei sozinha) pelo facebook deles. Isso facilita muito e funciona! Entretanto, no aeroporto de Lisboa me passaram para a cadeira de bordo e levaram a minha cadeira, MAS SÓ EMBARCARAM COMIGO DEPOIS DE TODOS OS PASSAGEIROS. Com isso, fiquei um tempo absurdo naquela cadeirinha, que não é nada confortável. Reclamei com a comissária e equipe de bordo, mas fica o aviso a quem for viajar pela TAP!

    E quanto aos países que visitei, fiquei feliz, entusiasmada, animada e todos os sentimentos de êxtase possível com a Noruega! Não conheço muitos países, mas a experiência de acessibilidade em Oslo foi a maior e melhor que já tive. Ruas, ônibus, passeios, metrôs, lugares turísticos, tudo! Por onde fui consegui transitar muiiito bem (exceto onde a neve estava muito alta). Não imaginava encontrar um lugar assim e foi maravilhoso ver que ele existe. Triste é só querer demais que aqui também seja tão acessível quanto...

    Abraços Alessandro! Espero ter contribuído com as minhas experiências!

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    1. Olá! Obrigado pela contribuição, ajudou bastante! Não sabia que tinha como solicitar auxílio pelo Facebook, boa dica. E sobre a Noruega também, quem diria! Quando for por aqueles lados incluo na minha rota. Abraços!

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  10. Olá!!!Tenho um filho cadeirante ,o Matheus de 16 anos, jovem alegre e adora viajar e conosco tbm já aconteceu o fato de chegar e ter de pedir(aos comissários)que as pessoas que estavam sentadas na primeira fila se levantassem e trocassem de lugar.Eles(a companhia )alega que podem ser idosos,deficientes,crianças pequenas,tds essas situações são relacionadas a primeira fila,mas já encontrei pessoas sem nenhuma dificuldade viajando nessa posição.Sempre houve a troca e nunca pagamos por isso.Muito legal seu blog.Abraços

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  11. Boa norte me chamo José dos reis . sou cadeirante. Queria saber qua aeronave é melhor pra um cadeirante viajar. Boeing 373 , ou um ATR igual esses da azul? Obrigado.

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    1. Oi José, acho que você quis dizer 737, esse sem dúvida é melhor para viajar, pois é mais fácil aproximar a cadeira do assento para transferir e tem mais espaço para as pernas.

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  12. José dos reis: desculpa não vi que tinha digitado errado. Obrigado pelo o esclarecimento. Aproveitando a oportunidade; tem como um cadeirante viajar na poltrona da janela?

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    1. José, tem sim, dependendo do modelo de aeronave e da disposição das poltronas. Alguns 737 da Gol não tem a primeira fileira do lado esquerdo, portanto dá para chegar com a cadeira até perto da poltrona da janela e transferir com segurança.

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  13. Ola! Tudo bem?
    Na solicitacao do visto para os EUA sendo cadeirante, há opcao de solicitar um acompanhente?

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    1. Olá Paulo, na solicitação do visto não sei te dizer. Fui com a esposa ew não houve problema.

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  14. Ola! Tudo bem?
    Na solicitacao do visto para os EUA sendo cadeirante, há opcao de solicitar um acompanhente?

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  15. Oi! Pretendo viajar para Portugal, com a TAP.Alguém já viajou pela Tap?
    Denise

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  16. Este comentário foi removido pelo autor.

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