quarta-feira, 23 de maio de 2012

Rio Othon Palace

Entrada do Rio Othon Palace
No último fim de semana tive duas árduas tarefas: ir um casamento no sábado e um aniversário no domingo no Rio de Janeiro.  O drama na hora de um cadeirante viajar é sempre a busca pelo melhor hotel, ou melhor, pelo hotel com quarto bem adaptado, que tenha as medidas adequadas e os equipamentos necessários a uma boa estada.
Costumo procurar hotéis adaptados pelo site Booking.com, que permite selecionar somente hotéis com quarto adaptado depois de escolhida a cidade. Depois que faço a seleção e identifico um hotel bem localizado (mais próximo de onde vou ou de pontos turísticos) e com bom preço, ligo para lá e busco mais informações sobre a estrutura do quarto adaptado focando, principalmente, no banheiro. E nele que são dadas as maiores mancadas pelos hotéis, como o Tryp de Brasília, que me causou um queda.
Fiz a costumeira pesquisa e tive uma grata surpresa. Um hotel cinco estrelas, o Rio Othon Palace, estava com preços promocionais. Mais barato do que hotéis inferiores. Como nunca havia ido lá, liguei para saber como eram as adaptações e se o hotel fornecia cadeira de banho para deficiente. Falei com essas palavras e o atendente me disse que sim, havia cadeira de banho adequada. Sendo assim, reservamos.
A rampa na entrada tem boa inclinação
Fomos no sábado e chegamos no hotel por volta de duas e meia, mas o check-in só poderia ser feito às 15hs. Tudo bem, é regra, mas poderiam abrir uma exceção para um cadeirante quebrado de viagem. Pelo menos o hall do hotel tem sofás confortáveis, apesar de baixos, mas não atrapalha a transferência. Nos chamaram e subimos para o quarto 804.
Essa cadeira NÃO é para cadeirantes
Chegando ao quarto, fui direto para o banheiro conferir a cadeira. E mais uma vez fiquei decepcionado: a cadeira não é adequada para cadeirantes. É uma cadeira para idosos, que podem se levantar e sentar nele, igual ao do hotel de Brasília. Mas como eu estava com a Gi, nem reclamei, pois ela poderia me ajudar nas transferências. Porém, fica a dica, gerentes e proprietários de hotel: essa cadeira NÃO é adequada para cadeirantes. Nós precisamos escorregar a bunda até a cadeira, por isso o braço DEVE ser removível. O correto, correto mesmo, seria e adquirir uma cadeira de banho com rodas grandes, que permitem ao deficiente se locomover sozinho. Outra coisa, o banheiro tem um pequeno degrau, que é facilmente superado com uma cadeira de rodas, mas para aquela cadeira de banho de rodas pequenas, torna-se um empecilho. Desnecessário. Mas fora esses "detalhes", o banheiro conta com muitas barras, chuveirinho e pia vazada.
Duas camas juntas e o interruptor de pedal ao fundo
Mas as decepções não acabaram aí. Tiveram que juntar duas camas de solteiro para dormirmos juntos, pois  não há quarto de casal adaptado. Será que eles pensam que os deficientes sempre andam com um(a) ajudante, e não com o companheiero(a)? Bola fora. Mas o absurdo foi o mesmo encontrado no Tryp de Brasília: a luminária de canto fica muito no canto e o interruptor... é de pedal. Isso mesmo, acende quando a pessoa PISA no interruptor. Será possível que esses caras não percebem que um cadeirante não pisa??
Piscina com uma belíssima vista de Copacabana
Bem vou falar agora das coisas boas. O café da manhã é ótimo, com direito a vista do mar. O terraço, no 30º andar, tem uma bela piscina e uma vista espetacular. A comida do bar da piscina e do restaurante, é divina. Tomar um sol, ou uma cerveja no fim da tarde, é uma delícia! Aproveitamos bastante. Mas só recomendo se eles trocarem a cadeira de banho. E a luminária, claro.

sábado, 19 de maio de 2012

4 Pilastras

Deck do bar e restaurante com vista para as 4 pilastras
Quem morou ou já esteve em Viçosa/MG se identifica na hora com o título do post. As quatro pilastras são colunas de concreto que "separam" a Universidade Federal de Viçosa da cidade. Seguindo pela Avenida PH Rolfs e passando por elas, a gente entra em uma das melhores instituições de ensino do país. E delas para trás, está uma cidade repleta de jovens estudantes, repúblicas, festas e, claro, botecos.
E foi no mais novo bar e restaurante da cidade que homenageou as quatro pilastras adotando este nome. A novidade rendeu uma das maiores mudanças visuais na entrada da universidade desde a construção de duas torres de apartamentos na esquina do lado esquerdo de quem vai. Do lado direito, desde que conheço Viçosa há um posto de gasolina, que já teve várias bandeiras. Esse posto já tinha um bar/restaurante, o Presto Pasta, que serve massas e cerveja gelada.
Em uma grande sacada, o Juliano, que tocou por anos o bar Juca do Gás, construiu um segundo andar no posto e um deck por cima do lava jato, formando uma varanda. Quando cheguei a Viçosa no último fim de semana, fui a este posto e vi a estrutura, mas imaginei que eu jamais conseguiria subir lá, já que há uma grande escada na lateral. Mas à noite saí com a Gi para dar uma volta na cidade e descobri que atrás do bar tinha uma entrada no nível da rua! Não resisti e fomos lá conferir.
Entrada acessível
É preciso subir um morro para chegar lá, mas não há muitos obstáculos no caminho, só uma calçada de pedras no início. A entrada é boa, e logo me deparei com um banheiro para deficientes. E uma curiosidade: ele é compartilhado com o banheiro feminino. Ou seja, se nenhum cadeirante estiver usando, pode ser usado pelas mulheres. Entendi o objetivo, já que o banheiro das mulheres é o que geralmente dá fila, mas não acho legal dividir, pois a necessidade de o banheiro ser separa é evitar a proliferação de bactérias que podem nos prejudicar, já que usamos sonda. Mas se alguma mulher quiser entrar para me ajudar, eu aceito... (brincadeira, viu Gi?). O banheiro ainda está sem barras de apoio, mas o Juliano disse que está acabando de ajeitar e vai colocar.
Banheiro compartilhado
A circulação interna é meio apertada para uma cadeira de rodas, mas com uns poucos pedidos de licença fui passando para chegar à varanda, que ficou muito bacana. A vista é muito bonita, para as quatro pilastras e uma lagoa da universidade. Vai bombar no verão! A cerveja é meio restrita, só servem Heineken e Bavária, mas estava bem gelada e bem servida. E para beliscar, recomendo o Chiken Wings, assas de frango com coxa desossada recheada com bacon. Uma delícia! Continuarei cliente do Juliano, no 4 Pilastras. Muito bom!

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Tiro em cadeira de rodas

Preparar, apontar, fogo!
- Nossa, será que alguém atirou em um cadeirante?
- Não, caro leitor, na verdade o tiro partiu de um cadeirante.
- Meu Deus, será que é um cadeirante bandido?
- Claro que não, prezado leitor. Imagina se o cara ia se aventurar a ser bandido em uma cadeira de rodas, como é que ele ia atirar e sair correndo?
A verdade é que o título se refere a mais um esporte sobre cadeira de rodas, o tiro esportivo adaptado. E o "esquecimento" da palavra esportivo no título foi para chamar a atenção e jogar um pouco de humor sobre esse assunto sério e importante: esporte adaptado. E a história de hoje vem de longe, lá de Boa Vista, capital de Roraima, no relato do meu amigo Luiz Otávio Seabra, um cara super ativo e animado. Tão animado que resolveu praticar tiro esportivo em cadeira de rodas. E já está participando de competições.
Mexe com ela pra você ver, mexe?
Os cadeirantes de lá ainda estão tentando engatar no esporte, já que não tem patrocínio, mas fecharam uma parceria com uma loja especializada em vendas de armas (caça e pesca, em geral) e seus associados tem descontos na compra das carabinas 4.5 (necessária para a prática do tiro esportivo). Eles estão tentando fechar uma parceria com o clube de tiro para isentar o pagamento da taxa de filiação à associação, que está no valor de R$ 150,00 (cento e cinquenta reais) anuais. Não há, no momento, patrocínio de outra instituição, mas o objetivo é fechar parcerias com diversas instituições que se interessem em 'comprar' a ideia de apoiar o Esporte Paraolímpico.
O torneio idealizado e organizado pelo Clube de Tiro Tiradentes - CTT foi intitulado de I TORNEIO DE CARABINA DE AR COMPRIMIDO DE RORAIMA, e na programação inicial (eram esperados 100 competidores) estava prevista também a modalidade tiro com carabina de calibre .22, porém, devido à presença em massa dos competidores (por volta de 200 competidores), o presidente tomou a decisão de realizar somente a competição de Carabina de Ar Comprimido.
Luiz Otávio curtindo a liderança na competição
A competição foi mista (homens e mulheres), os cadeirantes participaram com os novatos, que nunca atiraram, e adolescentes. O Luiz Otávio ficou em primeiro lugar na modalidade Tiro Sem Luneta, mas na humildade admite que atirou apoiado enquanto os outros dois participantes, Maria do Carmo e Reginaldo, atiraram sem apoio, dificultando muito mais sua precisão em decorrência do equilíbrio de tronco, pois, além de tentar mirar no alvo eles tinham que sustentar o peso da carabina (que não é leve, em média, uma carabina pesa de 2,5 a 3kg) e manter o equilíbrio de tronco. Na modalidade Paraolímpica participaram três pessoas com deficiência (paraplegia).
O objetivo do pessoal é transformar e desmistificar a mentalidade das pessoas em relação a nós - Pessoas com Deficiência (é essa a intenção com o Esporte Adaptado). Nós podemos fazer tudo, basta querermos, persistirmos e nos dedicar aos nossos objetivos. Lembrando que o esporte é muito benéfico para esse nicho, em especial, pois através dele, é trabalhada também a autoestima das pessoas.
Essa turma aí atira pra todo lado!
Para quem se interessar, algumas informações sobre o esporte:
Apesar de pouco divulgado no Brasil, o tiro esportivo estreou nos Jogos Paraolímpicos de Toronto, em 1976. As disputas acontecem entre homens, mulheres e nos confrontos entre ambos (mistos). No Brasil, a modalidade que é administrada pelo Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB), começou a ser praticada em 1997, no Centro de Reabilitação de Polícia Militar do Rio de Janeiro. No ano seguinte, o País foi representado pela primeira vez em um torneio internacional, realizado na cidade espanhola de Santander. Em 2002, o CPB investiu em clínicas da modalidade para sua difusão no Brasil. Os atiradores Carlos Strub, Cillas Viana e Walter Calixto conquistaram a medalha de bronze por equipe no Aberto de Apeldoorn, na Holanda, em 2003. Nos Jogos Paraolímpicos de Pequim (2008), houve a primeira participação de um atleta brasileiro na história dos Jogos com Carlos Garletti. O Comitê de Tiro Esportivo do Comitê Paraolímpico Internacional (IPC) é responsável por administrar a modalidade. As regras das competições têm apenas algumas adaptações. Pessoas amputadas, paraplégicas, tetraplégicas e com outras deficiências locomotoras podem competir tanto no masculino como no feminino.
Olha o estilo do atirador cadeirante!
Classificação:
O tiro utiliza um sistema de classificação funcional que permite que atletas com diferentes tipos de deficiência possam competir juntos, tanto no individual como por equipes. Dependendo das limitações existentes (grau de funcionalidade do tronco, equilíbrio sentado, força muscular, mobilidade de membros superiores e inferiores), e das habilidades que são requeridas no tiro, os atletas são divididos em três classes: SH1, SH2 e SH3. Mas as competições paraolímpicas incluem apenas as classes SH1 e SH2. A diferença básica entre SH1 e SH2 é que atletas da SH2 podem usar suporte especial para a arma, que obedecem às especificações do IPC. Os atletas da SH3 possuem debilitação visual.
A classificação do Tiro é dividida em três classes principais:
SH1: atiradores de pistola e rifle que não requerem suporte para a arma;
SH2: atiradores de rifle que não possuem habilidade para suportar o peso da arma com seus braços e precisam de um suporte para a arma;
SH3: atiradores de Rifle com deficiência visual.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Mané e Maria

Seu Mané e Dona Maria
Não, não é assim que eu e Gi somos conhecidos na roça, esse é apenas o nome de um restaurante e cachaçaria que conhecemos aqui em BH no último fim de semana. O Mané e Maria fica na rua Barão de Macaúbas, 111, bairro Santo Antônio. Servem uma deliciosa comida mineira e vendem doces, temperos, cachaça e outros produtos da roça. Tudo de ótima qualidade (a Gi comprou molho de pimenta e de alho, ótimos).
A entrada tem rampa, mas a varanda não
Só que na acessibilidade... deixam um pouco a desejar. Até tiveram boa intenção: a entrada é uma rampa que dá direto no salão principal, e lá dentro há banheiro adaptado. Só que a parte mais legal do restaurante, as varandas, não tem acesso. Como sou teimoso, pedi ao garçom para me ajudar a transpor o mega degrau que separa a rampa principal da varanda, e lá ficamos. Muito agradável, com vista para a rua. E não é difícil acabar de adaptar o lugar, basta rebaixar o chão ali em forma de rampa, não vai perder espaço de mesas e ficará mais seguro, pois como podem ver, o degrau é grande.
Pedimos uma maça de peito ao molho fumaça, uma delícia. E o prato é enorme, dá para três comerem com folga. Depois de dois chopes, resolvi testar o banheiro. Chamei o garçom novamente para me ajudar na descida (nada segura) e ele pediu para esperar, pois precisavam preparar o banheiro, tirar algumas coisas lá de dentro. Na boa, isso me deixa injuriado, sempre usam o banheiro de deficiente como depósito. E nesse caso ainda é ainda pior, eles deixam um freezer de sorvete na frente do banheiro, tiveram que arrastar para que eu pudesse entrar. 
Pelo menos dá para pegar um picolé do banheiro
Para piorar ainda mais, a porta estava quebrada. Um dos funcionários se desculpou e colocou a porta meio entreaberta e disse que eu poderia usar o banheiro tranquilamente que ninguém ia incomodar. Nada bom, a gente fica inseguro, e uma porta dessas é muito barata para trocar, não custava resolver o problema. Enfim, um lugar para conhecer e lembrar da roça, para quem gosta. Mas se for cadeirante, leve uma porta nova, e se contente em ficar lá dentro se não quiser se arriscar na subida da varanda.

domingo, 6 de maio de 2012

Vergonha da cadeira de rodas

Minha jangadinha é bem feinha
Não são raros os casos de cadeirantes que ficam meses sem sair de casa. Tem outros que só saem para ir ao médico ou ao Hospital Sarah, pois o ambiente tem mais a ver com um cadeirante. Também não é incomum ouvir histórias de pessoas que ficaram meses, ou até anos na cama, pois não aceitaram a cadeira de rodas. Afinal, qual o problema desse povo?
Há os motivos pessoais ou até psicológicos, mas muitas vezes o motivo é a vergonha da cadeira de rodas. Não exatamente de estar em uma cadeira de rodas, mas pelo fato de uma cadeira de rodas ser um objeto feio, esquisito e sem estilo. Como muita gente pensa, a vaidade não vai embora porque a pessoa vira cadeirante. Como todo mundo, a gente continua gostando de se sentir bonito, de estar na moda e de se vestir bem.
Que tal uma corzinha? Nem tanto, né...
Como a cadeira passa a ser um complemento constante do nosso corpo, devemos parar para pensar o quanto é importante se sentir bem com a aparência dela. E tudo começa pelo modelo. Convenhamos que as cadeiras dobráveis, tipo duplo X, são bem feinhas, mas podem ser melhoradas. A primeira coisa que pode mudar é a cor. O mais comum é o cinza claro, padrão destes modelos. Não tem porque manter ela na cor original, se você gosta de vermelho, mande pintar de vermelho. Se gosta de azul, a mesma coisa. É uma coisa simples, mas dá outro visual. Tem gente que não gosta, prefere o cinza justamente para passar despercebido, já que a cor chama a atenção. Acontece que passar despercebido em uma cadeira de rodas é impossível. Então, porque não colocar uma corzinha? Claro que não precisa pintar um arco íris na bichinha, mas escolher uma cor que combine mais com a pessoa cai bem.
As monobloco tem design mais "limpo"
Os modelos monobloco são bem mais bonitos, independente da cor. O design mais limpo, com menos ferros à mostra, é bem mais belo do que as dobráveis. E elas geralmente são disponíveis em várias cores, metálicas ou sólidas. Mas elas costumam ser um pouco menos confortáveis, já que geralmente não tem braços, mas acho que isso é questão de adaptação. Hoje eu não sinto muita diferença. Além do design, a facilidade em desmontar ajuda muito no dia a dia.
Além da cor, o encosto rígido que geralmente vem nas monobloco permite ainda aplicar um adesivo e personalizar ainda mais a cadeira. Nas cadeiras de mulheres, que tem ainda mais vaidade, fica bem bacana, dá até um certo charme. Há vários modelos, os mais comuns são os de borboletas, acho uma gracinha. Ainda mais que a borboleta é o símbolo da transformação, o que agrega ainda mais como simbologia. A da foto abaixo é da Tuigue, do blog Muletas Cor-De-Rosa.
Com adesivo fica um charme
Outra coisa que compõe bastante o visual de uma cadeira são as rodas. As que tem três ou cinco raios dão uma grande diferença no visual. As mais famosas são as X-core, que uso na minha cadeira, mudam completamente o visual. Ainda mais nas monobloco, no caso da minha, uma M3, acho bem bonito o desenho do eixo traseiro em alumínio, que fica aparente com essas rodas. Há também as de magnésio com três raios, também muito bonitas.
Enfim, não há porque ter vergonha da cadeira de rodas. Já que é impossível sair sem elas, que tenham a nossa cara e nos dê mais prazer em sair de casa. Porque, convenhamos, ficar dentro de casa todo dia não tá com nada!