segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Revisão de 45 mil km


Hoje estou no Hospital Sarah para a revisão anual, desta vez de 45 mil quilômetros (afinal, acabei de fazer quatro anos e meio de cadeira de rodas). Antes que alguém fale que estou rodado, aviso que eu já era muito rodado antes da cadeira. É que eu era ciclista e já vivia sobre rodas (pensou bobagem, heim?).
Vejam como fiquei fofo nessa roupinha que eles nos dão para exames. Isso porque não viram a calça pega frango com meias pretas. Vou fazer aquele ultrassom abdominal total, fundamental para lesados medulares, pois como temos pouca ou nenhuma sensibilidade, com ele dá pra saber se há algum problema "interno". É o mesmo ultrassom de grávida, mas não perguntem se estou grávido devido à barriga proeminente, não vão gostar da resposta (olha a perninha saindo... não resisto).
Mas já adianto que meu fígado deve estar detonado, depois de anos de bebedeiras. Meus pulmões devem estar indo pro saco, devido ao ar "puro" da cidade. Meus rins e bexiga devem estar bichados, pois tive 500 infecções urinárias, e meu intestino deve estar uma bosta. Bem, espero que meu pâncreas esteja legal. Pra que que ele serve mesmo?

UPDATE: apesar do meu tenebroso prognóstico, a primeira impressão do médico sobre o exame foi positiva, disse que está tudo bem. Mas que o resultado do exame só sai daqui uma semana... E, a pedidos, abaixo uma foto da calça "pega frango" no Sarah. Pra quem não sabe, isso é gíria pra calça curta aqui em Minas.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Se perdoando

Acabei de assitir, "Comer, Rezar, Amar" (eu sei, demorou, heim?) e fiquei pensando em uma das lições do filme e sua relação com quem passou por um grande trauma na vida que mudou tudo e foi "culpada" por isso - como eu, vítima de um acidente de moto por imprudência que me tornou deficiente físico.
A lição é a pessoa aprender a se perdoar ao invés (ou além) de se preocupar que os outros a perdoem. Pegando meu exemplo, uma pessoa que se acidentou fazendo merda (correndo em uma moto a quase três vezes a velocidade permititda) e as consequências o deixaram paraplégico, sem movimentos e sensibilidade do peito pra baixo, uma das coisas que inevitavelmente passa pela cabeça é "porque fiz isso comigo?". Acredito que este seja um dos motivos que leva tanta gente à depressão, mau humor, e sentimentos deste tipo. A pessoa não se perdoa.
Ou mesmo em um caso que a culpa não foi dele, alguém entrou na frente, alguém atropelou, ou outra pessoa participou da culpa (no meu caso, o tratorista sem carteira que atravessou na minha frente sem olhar) por mais que se fique revoltado com a pessoa que "contribuiu" para a tragédia, é importante a pessoa se perdoar. Porque de alguma forma ela contribuiu, estava no lugar errado na hora errada, saiu com quem não devia, e no fundo acaba se sentindo responsável e culpado por ter "estragado" sua vida. Nesse momento, é importante saber se perdoar, para seguir em frente e se adaptar à nova realidade buscando ser feliz - sem nenhuma culpa ou sentimento ruim martelando sempre na cabeça.
No meu caso, me perdoei rapidinho, pois queria mais que tudo continuar a viver e ser feliz. Sem nada pra atrapalhar, além das limitações, que podem ser "dribladas" com força de vontade e planejamento.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Pai cadeirante

Nesta foto estão o Gregori Iochpe, Helene e o recém nascido Gustavo, filho dos dois. Gregori me contatou há algum tempo e contou sua história, que reproduzo abaixo.

"Minha historia como cadeirante começou em uma tarde quente de 02 de outubro de 2002, saí da empresa onde eu trabalhava para ir à academia treinar um pouco de tênis, na época eu estava com 23 anos e fazia exercício todos os dias, tinha recém sido selecionado para gerenciar a filial de uma empresa de grande porte do ramo têxtil e no dia seguinte teria uma reunião na matriz desta empresa em Blumenau, que fica 180 km de minha cidade (Lages-SC).
Eu estava com uma moto esportiva Suzuki 750, quando um carro atravessou a preferencial e eu não consegui frear, bati contra o carro e caí no chão, no momento não senti mais minhas pernas, apenas uma dor muito forte no ombro esquerdo que quebrou no acidente, pedi que tirassem meu capacete e fiz a ligação para os bombeiros, e depois para um médico amigo meu.
Quando cheguei ao hospital, estava com o pulmão direito estourado (pneumotórax), o médico meu amigo abriu o jogo comigo e disse que a situação era grave, e que provavelmente eu havia lesionado a medula. Fizemos a cirurgia da coluna, coloquei duas hastes e 16 pinos nas costas, segundo os médicos ortopedista e neurologista, minha medula havia sido cortada ao meio pelos estilhaços de ossos das vértebras que eu fraturei (L12 e L1).
Depois veio tudo aquilo que você sabe, muitas visitas (umas boas e outras chatas), e com 45 dias de lesão consegui uma vaga no Hospital Sarah de Brasília, e na primeira internação fiquei 45 dias, os quais acho que foram os dias mais difíceis de minha vida, pois lá caiu a ficha que eu poderia ficar na cadeira de rodas para sempre.
Estive três vezes no Sarah e apenas 3 meses após meu acidente eu já estava morando sozinho, com 4 meses de acidente comprei um Corolla, adaptei com alavanca Cavenaghi e comecei ir na fisioterapia de carro.
Chegando na fisioterapia, conheci uma outra fisioterapeuta, não a que me atendia, era uma menina recém formada que era especialista em neurologia, fui ficando amigo dela e após alguns meses ela se tornou minha fisioterapeuta, nossas conversas batiam, nossos gostos também, ela entendia o que eu sentia, me apoiava e acabei me apaixonando, e após dois anos nos casamos.
Estamos casados faz quatro anos e meio, após um ano de casados resolvemos ter filhos e procuramos ajuda de especialistas, fomos a uma clínica em Florianópolis, fizemos duas fertilizações, mas sem sucesso, então resolvemos buscar ajuda em uma clínica muito famosa de Porto Alegre (Centro de pesquisa e fertilização Nilo Frantz), e lá conseguimos engravidar.
No dia 24 de Janeiro o nosso querido e aguardado Gustavo nasceu, o parto foi realizado em Passo Fundo-RS, no hospital PRONTO CLINICA, que se adaptou todo para atender o primeiro pai cadeirante daquele local.

Me colocaram em uma suite completamente adaptada para cadeira de rodas; há uns 15 dias atrás ligaram perguntando o que deveria ter no quarto e quais as larguras e alturas que eu desejava, quando cheguei estava do modo que pedi, e isso foi um alivio.
O Gustavo nasceu de 7 meses e meio com 2.330 gramas e 46 cm, depois de 4 fertilizações.
Ele nasceu saudável e forte, não foi necessário ir para o oxigênio, o que nos deu um grande alivio."

Essa é mais uma história de coragem, superação e "final feliz", de um cara que encarou os problemas e "correu atrás" de seus sonhos, sem dar bola para as adversidades. Parabéns à família, e desejo tudo de bom nessa nova fase da vida, com um lindo bebê pra curtir. Aguardo também o nascimento da Ana Sofia, minha "sobrinha" gaúcha, de outro pai cadeirante, do blog Sem Barreiras.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Excesso de zelo

Faz tempo que quero falar sobre isso. É um dos fatores que mais atrapalha na reabilitação de um lesado medular ou uma pessoa que passa um grande trauma na vida, que causa limitações (vou chamar de "estrupiado" pra facilitar). A família ou companheiro(a) (vou chamar de "quem cuida") fica sensibilizado com a situação e faz de tudo pra ajudar, veste, dá banho, carrega no colo, tudo pra evitar que a pessoa faça qualquer esforço. Não acho isso errado, o problema é o excesso. Por medo de acontecer alguma coisa e piorar a situação, não deixam o estrupiado nem tentar fazer alguma coisa, transferir sozinho, se vestir, e às vezes nem comer.
Quando acontece o excesso, é tão prejudicial para o estrupiado, que acaba ficando mesmo mais dependente, não fortalece os músculos que funcionam nem estimula outros músculos; quanto pra quem cuida, que acaba dedicando muito tempo e preocupação para fazer coisas que o próprio estrupiado poderia estar fazendo.
E fica pior quando algum profissional de saúde explica que o estrupiado é capaz de fazer as coisas e mesmo assim quem cuida continua com excesso de zelo, tratando como se fosse uma porcelana. E é isso que quem cuida, junto com o estrupiado, devem fazer: se informar com profissionais sobre as reais limitações e o que deve ser estimulado, e passarem a deixar o estrupiado tentar se virar mais sozinho. Sei que no início é muito ruim, corta o coração de quem cuida ver o estrupiado fazendo uma força enorme pra realizar tarefas que poderiam ser mais fáceis com uma ajudinha; e para o estrupiado é difícil, e passa muita raiva nas primeiras tentativas, mas depois dá uma enorme satisfação pra todos descobrir que o estrupiado não é tão estrupiado assim e pode se virar bem sozinho.
Não me crucifiquem por criar um apelidinho exdrúxulo pra quem tem limitações, lembrem-se que me incluo na categoria. Já tô imaginando minha mãe me ligando depois de ler este post pra me zoar: "cadê o estrupiadinho da mamãe?"

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Notícias envolvendo cadeirantes

Nos últimos dias li tristes notícias envolvendo cadeirantes. Primeiro, foi o caso do porteiro proibido pelos condôminos de ajudar uma cadeirante a subir uma rampa em Juiz de Fora. Depois, foi o caso do advogado cadeirante agredido por um delegado em São José dos Campos. E agora, um colégio daqui de BH rejeitando a matrícula de um cadeirante de 11 anos.
Até quando veremos estes absurdos de desrespeito a pessoas que já passam tantas dificuldades na vida? O "lado bom" é que pelo menos aparecendo na mídia, causa a reflexão de muitos e a vergonha dos envolvidos. E estimula a todos continuarem lutando pelos seus direitos. Como diriam alguns revolucionários, "a luta continua, companheiros!!"


quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Situação atual

Esse post é pra atualizar minha situação e avaliar os novos equipamentos da cadeira. Acho muito legal saber que tem gente que nem conheço que se preocupa comigo. Acho muito bacana também quando ajudo alguém de alguma forma.
Quanto à minha luta para acabar (ou pelo menos minimizar) a dor crônica, passei apertado ontem. Voltei a trabalhar e já saí de casa com dor forte, que senti a noite toda, e mal dormi. Encarei o trampo assim mesmo, já entrando com um tilex no café da manhã, mas ele não fez nem cosquinha. Fui pra hidro no começo da tarde e melhorei um pouco, masmo porque não fiz exercício, só relaxamento. Mas no fim da tarde voltei a ter crise e fui parar no hospital de novo, pra tomar tramal na veia e outro analgésico que não lembro o nome. Assim que comecei a "viajar" voltei pra casa. Dirigindo...
À noite melhorei e consegui dormir, mas estava tão cansado que nem a dor me impediu de apagar. Hoje acordei melhor, tomei lyrica e metadona, e consegui passar o dia menos dolorido. Agora estou deitado e com menos dor. Vou tentar outra alternativa, voltar a fazer acupuntura, já marquei pra semana que vem.
Quanto às rodas, estou gostando muito delas, os pneus maciços não são tão ruins em terreno irregular, hoje fui almoçar e passei por calçadas de pedra e com buracos, quica um pouco mais, mas não chega a incomodar. A almofada Roho ajuda a minimizar os impactos. Os pneus maciços também ajudam nas manobras, não agarram em carpetes ou tapetes e deixam a cadeira mais rápida.

A propósito, a Roho é mesmo muito gostosa. Ontem à noite eu e Gi fizemos a regulagem do ar de acordo com o manual. E hoje passei a usá-la na cadeira do escritório, afinal é onde passo a maior parte do tempo sentado. Quando começa a doer é só movimentar um pouco que os pontos de pressão mudam e volta o conforto.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Resultado da enquete

Hoje finalizou a enquete que fiz para saber o que os cadeirantes acham mais importante na hora de escolher um carro, e o resultado me surpreendeu. Foram 164 votos, e a maioria (83 votos - 50%) acredita ser mais importante escolher um carro que tenha facilidade para entrar. Eu acho mais importante o câmbio automático, mas acredito que o resultado se deve ao fato de grande parte dos cadeirantes não dirigir, portanto valorizam mais o acesso. O resultado ficou assim:
- Câmbio automático/automatizado: 51 votos (31%)
- Porta malas grande: 20 votos (12%)
- Espaço interno: 10 votos (6%)
- Facilidade para entrar: 83 votos (50%)
Sei que todos os itens são importantes, mas identificamos aqui a preferência da maioria. Já falei sobre acesso ao carro em um post anterior, demonstrando que existe uma tábua, que ganhei no Hospital Sarah, que ajuda a entrar no carro, pois basta encaixar na cadeira e deslizar até o banco. Existem também outros equipamentos que facilitam a entrada no carro.
Quando comprei meu carro, fiz questão de ir nas concessionárias testar os carros que eu tinha em mente, entrando e saindo deles. Essa é uma recomendação que sempre dou, fazer o "test drive" de entar e sair do carro e ainda pedir alguém pra colocar a cadeira no porta malas pra ver se cabe fácil. Faço ainda outra sugestão, entrar no carro e colocar a cadeira no banco do passageiro sozinho, para identificar a dificuldade no processo. Muita gente me pergunta sobre como colocar sozinho a cadeira, em breve vou fazer um vídeo mostrando minha técnica, pois cada um tem um jeito de fazer isso. Não é fácil, mas com um pouco de paciência a gente aprende a melhor forma.
Entre os equipamentos que facilitam a entrada no carro, tem um que é como se fosse uma tábua retrátil que fica ao lado do banco, e quando o deficiente vai passar ele "arma" a tábua, e depois recolhe. Mas o mais eficiente, na minha opinião, é o banco giratório, que se projeta para a lateral do carro e depois volta à posição original. Tem um mais avançado que este, que sai completamente no carro e se encaixa na base de uma cadeira motorizada, e o cadeirante sai rodando no mesmo banco que anda de carro. É interessante pela praticidade, mas é um equipamento caro. Conicidentemente falei hoje com o Léo, da Hélio Adaptações daqui de BH, e ele está instalando um sistema desses em um carro, assim que ficar pronto vai deixar eu testar pra fazer uma matéria aqui pro blog.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Enfim a Roho

Na primeira vez que vi uma almofada Roho, na Reatech de 2009, meu primeiro impulso foi "preciso comprar uma dessas rápido, é fundamental pra quem é cadeirante e vive sentado". Foi só impulso mesmo, pois eu estava no stand experimentando uma e a promotora chegou e derrubou qualquer esperança informando que "elas estão com preço promocional na feira, só R$ 1.100,00". Até achei que fosse brincadeira, como uma câmera de ar em forma de gominhos podia custar isso tudo? Mas era sério, tanto que depois da feira ela voltou ao preço "normal": R$ 1.341,00!!
Na época, minha preocupação maior era em relação às 20 horas por semana que eu passava sentando na cadeira nas aulas do mestrado (mais algumas estudando), pois o resto do tempo eu ficava no sofá ou deitado, com mais conforto e movimento. A grande vantagem da Roho é a prevenção de escaras, mas como eu tenho alguma sensibilidade sempre me mexo muito e nunca tive problema com isso (a não ser quando machuquei as costas). Mas mesmo quando se passa muito tempo na cadeira, não tem como se mexer muito.
Quando voltei a trabalhar, me preocupei novamente com longas jornadas sentado, mas resolvi passando sempre para a cadeira do escritório, que é mais macia e me permite mais movimentos. Mas mesmo assim não escapo de longas reuniões sentado na minha cadeira, pois nem sempre tenho a alternativa de passar pra outra ou não vale a pena. No fim das contas, a Roho acaba sendo importante, pois sendo lesado medular precisamos precaver sempre uma possível escara.
As condições que me "permitiram" decidir finalmente comprá-la foi conseguir alguém pra trazer dos Estados Unidos pra mim, porque comprar no Brasil é sem noção. Sabe como fiz? Uma amiga minha foi passar o reveillon em Nova Yorque e ia ficar no Mississipi na casa de um parente, aí comprei pela Amazon.com por US$ 324,00 e pedi pra entregar, com frete grátis, diretamente lá na casa em que ela estava. Com o dólar no valor que está, quando chegar na fatura do cartão de crédito, vai dar menos de seiscentos reais, menos da metado do preço daqui. Incrível como eles cobram caro nessa "importação". E olha que material médico tem isenção, heim? (não sei a Roho, se alguém souber me corrija).
Comprei o modelo QS910LPC, ou melhor, Quad Select 9x10 Low Profile, de 16x18" e 5cm de altura. Ainda estou aprendendo a regular, mas encher é super simples, já que vem com uma bomba manual e em poucas "bombadas" já fica no jeito. Sem contar que vem com manual em português, olha que legal. Ah, detalhe pra gatinha brincando na caixa dela no fundo, a bichinha adora uma caixa.
Semana que vem volto a trabalhar (ahhhhhhh.... - ah mesmo, porque as dores não foram embora) e vou ver como é no dia a dia, o conforto que dá. Talvez até auxilie a diminuir as dores, mas o importante mesmo é a prevenção.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Rodas novas - X-core 3

Este ano resolvi investir no meu principal meio de transporte (o carro, coitado, é secundário). Comecei pela troca das rodas, adquirindo esse lindo par de X-core 3 de fibra de carbono. Elas são mais simples de colocar e tirar e um pouco mais leves que as rodas de alumínio tradicionais. E ainda dão uma outra cara pra cadeira, fica mais esportiva e bonita de modo geral. Até pensei em pegar as Spinergy, mas a diferença de peso é muito pequena e não acho tão bonitas.
Li algumas matérias sobre essa roda e há alguns relatos alertando que elas podem empenar se o uso for muito intenso, mas não é o meu caso, ando pouco em terreno irregular e na maior parte das vezes saio de carro mesmo. Há outro detalhe, elas são raio 25", enquanto a grande maioria das rodas no Brasil são 24", mas também achei que não fez diferença, a não ser quando for trocar os pneus.
Mas felizmente elas vieram com pneus Shox, maciços, na cor preta. Finalmente posso dar adeus às idas ao posto de gasolina pra encher meus pneus. Perco um pouco em conforto, pois elas quicam mais, mas achei a diferença pequena. Rodei um pouco e gostei, achei bem macios, vamos ver como vai ser o comportamento no dia a dia. Uma outra vantagem do pneu maciço é que vai demorar muito tempo até precisar trocar. Agora faltam chegar meus outros dois investimentos do ano: uma almofada Roho e uma handbike, da Handvikn (detalhe: meu décimo terceiro já foi pro saco, né?). O ano começou bem pra mim, exceto pela decepção com a rizotomia, que não acabou com a dor crônica. Esse ainda é o calo no meu pé. Ou melhor, nas minhas costas.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Sistema para liberar banheiro

De um tempo pra cá, alguns shoppings de BH alteraram a forma de acesso ao banheiro para deficientes, nos casos em que o banheiro é do tipo separado dos outros e unissex. O fato de ser à parte tem vantagens tanto para o deficiente, que tem mais privacidade, quanto para o shopping, que não precisa fazer o banheiro todo amplo para que uma cadeira circule. Mas tem um incoveniente, pois mesmo esses banheiros sendo específicos para deficiente, ainda tem uns espertinhos que teimam em usá-lo, não sei se porque é mais rápido ou mais limpo que os banheiros comuns. Devido a essa falta de educação, alguns lugares passaram a trancar o banheiro e para ser utilizado o indivíduo tinha que procurar alguém da limpeza com a chave, o que era um transtorno.
A solução foi instalar um interfone na porta, a pessoa chega, toca e do outro lado liberam a entrada do sujeito. E pra sair tem que apertar um outro interruptor lá dentro, que eles liberam na hora. Usei esse sistema no Pátio e no BH Shopping, e deu tudo certo, exceto numa vez  no BH Shopping, os sistema estava chiando e a moça ficava perguntando "Pois nãaaaooo??" e eu gritando do outro lado "preciso usar o banheiroooo". Mas a vontade que eu tinha era gritar "preciso cagaaaaar" pra ver se a moça passa um pouco de vergonha (já que eu não ligo pra isso mesmo).
Além disso, é um tanto esquisito tocar um interfone pra ir ao banheiro, e me dá muita vontade de fazer uma brincadeira. Qualquer dia vou tocar e quando a moça atender vou perguntar "o Jonas tá aí?" ou então "é da casa da dona Tereza?"

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Boteco da Carne

Pra dar um tempo nas reclamações, publico agora um post sobre um lugar que estive ano passado, mais um boteco "acessível" aqui em BH. Acessível entre aspas porque tem acesso mas não tem banheiro adaptado. Não acho que a falta de banheiro impeça um cadeirante de frequentar, pois com planejamento e um coletor de perna dá pra curtir um boteco numa boa. É só cuidar pra não transbordar o coletor.
O lugar é o Boteco da Carne, na rua Alvarenga Peixoto, não sei o número. Tem uma rampa muito bem feita, com boa inclinação, e o espaço entre as mesas é razoável para passar com a cadeira. Tem uma varandinha muito gostosa e a cozinha é aberta, isso em boteco é raridade, apesar de dar um pouco de fumaça. É meio ruim de estacionar porque a rua é pequena e não tem vaga pra deficiente, mas na rua de cima tem, é plano e não fica longe.
O bar é famoso e sempre participa do "Comida de Buteco", evento que reúne os melhores pratos preparados pelos botecos de BH. Aproveitei para experimentar os pratos vencedores de anos anteriores, uma costelinha com batatas e o curioso "fondi mineiro". São três cumbucas com linguicinha, pernil e almôndega, que a gente pega com um garfinho e molha no angu quente molinho coberto com queijo parmesão, colocando tiras de couve no fundo do angu e três pimentas biquinho sobre o angu para enfeitar e condimentar.
Uma delícia, mas deve ser ainda melhor na época de frio, porque dá um calor... Ai, ai, falando de delícias de boteco e não consigo nem sair de casa pra tomar umas e aproveitar um boteco... torturante!

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Pra completar...

Falei dos efeitos iniciais, falei dos secundários, e pra completar... peguei uma infecção urinária! Sabe quando você pensa "o que mais falta acontecer?" Pois é, aconteceu essa infecção e cheguei a 39,3º de febre ontem, tive que receber compressa de água no corpo para ver se diminuia a temperatura, aliado com tylenol e já entrei no antibiótico (norflox). Hoje a febre cedeu mas o corpo... parece que tomei uma surra.
Incrível como toda vez que vou a um hospital trago de lá uma infecção urinária. Mas o fato é que lesado medular está sempre propenso a ter infecção, e qualquer mudança de ambiente mais prolongada pode causar isso.
De qualquer forma, além dos reflexos da cirurgia, da queimação intensa nas pernas e dor forte nas costas, tô infeccionado... Mas uma hora melhora. Espero.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Efeitos secundários

Achei que a recuperação da rizotomia ia ser tranquila, me enganei. Ontem tive uma crise de dor aguda que dura até hoje, senti dores no tórax e forte queimação nas pernas, cogitei até ir pro hospital ou ligar pro meu médico, mas segurei a barra e tomei um remédio pra dor (tylex) que serviu só pra eu conseguir dormir.
Senti também queimação na barriga e costas, o que me fez pensar ser outra coisa associada, já que estava urinando pouco. Bem, meu quadro não está nada bom, melhorei um pouquinho agora à tarde mas ainda queima muito. Li em um artigo que dores na primeira semana são "normais", pois a rizotomia causa inflamação na região, mas não sei até que ponto estou nessa normalidade.
Sei que sou o tipo de cara teimoso que só vai pro hospital se estiver morrendo (grande erro, sei disso) mas o pior é que quando vou me colocam remédio na veia e fico de "observação" e não acho que resolve muito. Aposto que muita gente já passou por isso. Felizmente amanhã mamãe tá chegando pra cuidar do filhinho (ah, quem não gosta, vai?) mas só assim pra eu tomar juízo mesmo. Mas esse negócio de tomar juízo nunca me agradou, afinal não tem álcool nesse tal juízo (kkkkk).

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Efeitos iniciais

Hoje faz dois dias da rizotomia e começo a fazer uma avaliação dos primeiros efeitos. No dia da cirurgia e no dia seguinte foi ótimo, esteva totalmente sem dor, mas ainda sob efeito da anestesia. Ontem à noite a dor voltou, e mais forte do que eu imaginava. A queimação nas pernas está um pouco menor, mas ainda constante, e a dor no peito reapareceu. Mas pelo menos a sensiblidade e movimentos que recuperei não foram mesmo afetados. Agora vou ficar de molho em casa mais doze dias repousando e espero que os efeitos começem a aprecer mais fortes.
Aproveito para fazer uma avaliação do quarto que fiquei no Hospital Mater Dei, aqui em BH. As instalações lembram mais um hotel, não tem aquela cara típica de hospital com longos corredores cheios de quartos. Tem sofás no hall e cores vibrantes.
O quarto é grande, a cama tem regulagens elétricas, mas o banheiro... Nada adequado para um cadeirante. Tem todas as barras para transferência e tudo, mas não tem espaço suficiente para posicionar a cadeira de forma correta ao lado do vaso para a transferência.
O problema poderia ser facilmente resolvido retirando-se o armário embaixo da pia, liberando espaço para girar e posicionar a cadeira corretamente. Não dá pra depender sempre de cadeira de banho ou de alguém para te ajudar. Num hospital não pode haver falta de acessibilidade, né?

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Rizotomizado

Acabei de comer aquele famoso risoto feito com carne de gato. E ele nem miou durante o processo.
Sem brincadeira, vou contar a experiência. Marcaram para as treze horas e eu precisava estar com seis horas de jejum. No café da manhã comi uma fatia de pão de milho e fui pro hospital. Fiz a internação e às nove e meia já estava no quarto. Foi só deitar que teve início uma crise de dor cavalar. A Gi foi embora e fiquei aqui sofrendo.
Deu uma hora e nada. Duas e nada. Três e nada. Quando deu quatro e meia da tarde fui procurar saber se me acham com cara de Macaulay Culkin (esqueceram de mim). A enfermeira disse que o médico já estava acabando uma cirurgia e já vinham me buscar. Detalhe que essa hora meu intestino grosso já estava comendo o fino de tanta fome que eu estava.
"Só" mais uma hora depois apareceu alguém, que mesmo vendo minha cadeira e o coletor fez a clássica pergunta "dá pro senhor vir pra essa cadeira? (que ela trouxe e estava a dois metros de mim) Na hora pensei "só se for voando", mas expliquei que não dava. E ainda tive que colocar aquela camisola ridícula que deixa a bunda de fora. Pelo menos eu tava sentado.
Chegando no bloco cirúrgico (essa hora eu sempre lembro de carnaval e entro cantando uma marchinha) já vieram dois pra me "guinchar" pra maca.
Veio o anestesista pra aplicar uma pelidural e em seguida começou o procedimento. Durou uma hora e meia, no final apaguei.
Acordei no caminho pro quarto e a Gi estava me esperando.
Resultado: a dor diminuiu bastante, mas menos do que eu imaginava. Tanto que não estou conseguindo dormir. O corpo está totalmente mole e estou sem força pra nada. O negócio agora é repousar. Depois conto mais sobre os resultados. Torçe por mim aí gente!
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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Vergonha de sair de casa

Vergonha de sair de casa é um problema que quase todo cadeirante passa. E isso impede a grande maioria de levar uma vida normal e se divertir. Causa depressão e baixa a auto estima. Mas porque os cadeirantes tem tanta vergonha de sair na rua?
Tudo bem que chegar em qualquer lugar em uma cadeira de rodas não é a coisa mais normal nem bonita do mundo. Mas também não é nenhum bicho de sete cabeças, é só um cara que já trouxe sua cadeira (pra um lugar que geralmente todo mundo está sentado). Creio que o maior problema são os olhares das outras pessoas. Aquela cara de quem parece que está vendo um alienígena. Ou cara de pena. Ou pior, a cara de reprovação, como quem diz "o que que essa pessoa está fazendo aqui? Não deveria ficar em casa?" Preconceito é complicado, mas pior que ele é o auto preconceito.
Se o problema são os outros, a solução está dentro da gente. Depende da gente ligar ou não pro olhar das pessoas. E a forma como você encara a situação, como se comporta, pode mudar completamente o olhar das pessoas. Ou melhor, a visão.
Eu sempre encarei numa boa essa situação, nunca liguei pra opinião dos outros. O que importa mesmo é que eu me sinta bem. E quando saio na rua de cadeira de rodas eu sinto orgulho. Orgulho por mostrar que sou capaz. De me divertir, viajar, saborear, beber e fazer quase tudo o que todo mundo faz.
Mas afinal, porque todo mundo olha? Porque estão vendo um problema que você tem, e ficam se questionando uma série de coisas. Mas o fato é que todo mundo tem problemas. Um tem dívidas, outro está acima do peso, outro perdeu o emprego, outro perdeu a mulher... Portanto, se você é cadeirante e tem vergonha, são dois problemas. Deixe que a cadeira seja o único e mostre ao mundo que você ainda tem muitos motivos pra  curtir a vida e se divertir. E ser feliz.

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