Essa figura da foto é o Fabiano, personagem do relato abaixo, que me foi enviado pela repórter Ivonete, de São Paulo. Uma grande lição pra muita gente.
"Parece brincadeira, mas não é: trata-se de um assunto estarrecedor que me fez refletir muito nos últimos dias depois de uma conversa (ao telefone) com um grande amigo meu que, em novembro de 2005, sofreu um grave acidente de moto, em São Paulo, e, como conseqüência, hoje está paraplégico.
Passados 5 anos do ocorrido, entre a fase inicial da depressão até alcançar um grau de maturidade (e aceitação), muitas histórias irônicas e que beiram a pequenez do ser humano são contadas por ele.
Uma delas eu gostaria de compartilhar com os amigos leitores do Blog do cadeirante (do Alessandro) que me fez refletir como algumas pessoas, ditas “normais”, ainda enxergam os cadeirantes com olhar de comiseração, piedade, quando na verdade não deveria ser assim. Porque não é assim!!!
Esse meu amigo contou-me que, um dia, aguardava na esquina de uma rua um outro amigo dele de trabalho para, juntos, irem à empresa que mantinham. Parado nessa esquina, em sua cadeira de rodas, eis que surge uma picape à sua frente. Sem que ele fizesse algum gesto, o condutor parou o veículo, abriu o vidro e lhe deu um monte de moedas, dizendo: “tome, pegue!”.
Fabiano, perplexo diante da cena e, visivelmente constrangido, disse: “Não , senhor, por favor, eu não estou pedindo nada, que é isso? Estou aguardando um amigo aqui!”. Mas, o rapaz, insistentemente quis de todas as formas deixar-lhe aquelas “moedas”. Sem ter o que argumentar ou fazer, acabou ficando com “aquilo.”
Não preciso nem falar que apesar dele levar a vida sempre com bom humor e – mesmo depois da cena dar muitas risadas com o seu amigo - no fundo, no fundo, aquela situação o constrangeu imensamente.
O que tiro disso tudo? Sou uma pessoa “normal”, que tento entender como é viver desta forma. Acho que as pessoas deveriam rever seus conceitos, pensamentos, deixar o preconceito de lado. O Alessandro, aqui no blog, em uma de suas postagens, refletiu sobre algo que me chamou a atenção: vivemos a maior parte do tempo sentados.
Eu, por exemplo, trabalho em uma redação de jornal, fico em frente ao computador o dia todo, dirijo meu carro diariamente (sentada, é claro...) até chegar em casa; chego, sento novamente em frente ao computador, à frente da televisão (com um controle nas mãos), enfim, passo a maior parte do tempo sentada.
Claro que temos a facilidade de nos levantarmos quando queremos, etc, mas se pararmos para analisar,a grande realidade é essa: vivemos a maior parte do tempo sentados.
Veja que o ser humano – em sua grande maioria – vê hoje os deficientes, especialmente os cadeirantes, como seres inertes, sem vida, mas não é verdade! O limite está dentro de cada um, o sopro da vida vai além da locomoção, e eu aproveito esse espaço aqui para deixar minha indignação com quem tem esse espírito: de comiseração.
Agradeço a Deus pela vida, pela oportunidade que muitos tiveram ao sobreviverem a acidentes terríveis, como esse meu amigo que, apesar da gravidade, mantém-se grato por tudo, até mesmo pelas adversidades, pois foi através delas que muitos dos seus conceitos e ações do passado foram completamente transformados.
Ivonete Soares
Jornalista