quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Proibido Cadeirante

Se tem uma coisa que sempre detestei foi dar trabalho pros outros. Claro que ninguém vive sozinho nem consegue tudo sozinho, mas é diferente receber uma mão ou uma pequena ajuda de mobilizar meio mundo só pra resolver um problema seu. Mas uma vez na cadeira de rodas, aprendemos que dar trabalho aos outros é uma constante e infelizmente uma necessidade para exercer o mais básico direito: ir e vir.
Eu não ia escrever sobre isso, pra não passar por reclamão, chato, etc, mas como um dos objetivos deste blog é dividir experiências e dar dicas para levarmos uma vida melhor numa cadeira de rodas, aí vai.
Na sexta feira passada, primeiro de outubro, dia do meu aniversário, passei uma das maiores raivas desde que fiquei paraplégico e virei cadeirante. Justamente nesse dia estava acabando um evento realizado pela empresa em que trabalho, e depois de três dias participando de gincana, recebendo teatro dentro da empresa e assistindo palestras, foi programado um churrasco de confraternização e jogo de futebol entre os empregados. O local escolhido foi uma quadra localizada no Barreiro, um bairro muito longe da sede da empresa. Avisei para as organizadoras que iria ao evento, até ofereci meu carro para dar carona a quem precisasse, e elas confirmaram que não haveria problema. Não perguntei diretamente se haveria acesso, mesmo porque no último evento organizado pela empresa tive alguns incômodos e comuniquei a todos, pedindo mais atenção quanto à acessibilidade no próximo evento.
Saí da empresa às 18:00 levando dois colegas comigo. Eu havia visto o mapa na internet, mas não sabia exatamente como chegar lá, mas fomos na coragem mesmo. Pegamos bastante trânsito, meu celular (que tem GPS) não estava funcionando bem, mas perguntando pra um monte de gente conseguimos chegar lá depois de uma hora e meia no trânsito. Detalhe: eu resolvi comemorar meu aniversário com meus colegas de trabalho mesmo sabendo que meu irmão tinha chegado de São Paulo à tarde e ido pra minha casa encontrar meus pais, que lá estavam desde quarta feira. Como já tinha combinado encontrar os parentes no sábado, achei que seria legal tomar uma cerveja com o pessoal do trabalho na sexta.
Mas chegando lá, começou a decepção. Em primeiro lugar, não reservaram um estacionamento pra mim, nem mesmo um cone segurando uma vaga mais larga, já que na região não há estacionamento reservado pra deficiente. Parei o carro num estacionamento em frente que já estava lotado, saí e pedi a um dos colegas pra acabar de estacionar o carro, atrás de um outro, numa vaga apertada. Atravessamos a avenida e dei de cara com uma escadaria de uns vinte degraus, o que já me desanimou. Cogitei ir embora, mas veio um monte de gente ajudar e incentivar e acabei aceitando. Juntou quatro pra me carregar escada acima, me segurei na cadeira e chegamos lá em cima. Mas quando fui tocar a cadeira pelo estreito corredor que fica ao lado da quadra, me deparei com mais um obstáculo: os postes da quadra ficam na lateral do corredor, e a cadeira não cabia. Sugeriram pegar uma cadeira de plástico, eu passaria pra ela, depois voltaria pra minha cadeira. Mas como eram dois postes distantes, e a cadeira que conseguiram era sem braços, e a essa altura eu já estava ficando puto por não terem se preocupado mais uma vez com o acesso, resolvi ir embora.
Não sou chato, não ligo de fazer esforço pra estar com os amigos se tiver gente disposta a ajudar, mas achei demais essa situação. Pior foi voltar sozinho, pegando trânsito, e sem conhecer o lugar. Passei por locais super estranhos, escuros e com gente esquisita. Só consegui encontrar o caminho de volta porque o GPS voltou a funcionar.
Lugares como aquele deviam ter uma placa como aquela lá em cima, não dá nem pra tentar colocar um cadeirante lá dentro, a não ser carregando no colo. A lição é essa: quando for a algum lugar, certifique-se bem, mas bem mesmo, se há acesso pra cadeira de rodas. Mas não deixe de sair, minha regra é: até quatro degraus, se tiver dois pra ajudar, tô dentro!!!

14 comentários:

  1. já passei muito por essa sintuação... mais o bom é saber que podemos acredita nos estralhos p/a ajunda pq se for da familia vai prefiri deixa o cadeirante em casa mesmo... eu acredito nos desconhecidos.

    ResponderExcluir
  2. Também já passei por isso e creio que passarei novamente. É muito frustante para nós cadeirantes e também para nossas companias que muitas vezes ficam constrangidos pela situação. Não podemos deixar isto nos abater, apesar que no momento ficamos furiosos, né? Vamos enfrentar nossas dificuldades.

    ResponderExcluir
  3. qual o nome deste local no Barreiro?

    ResponderExcluir
  4. Sabe que devia mesmo ter uma placa assim,porque daí ia poupar a gente,de ir nesses lugares...bjs

    ResponderExcluir
  5. Vc deve falar com sua empresa! Se fosse comigo faria a mesma coisa, porem na semana seguinte talaria com a pessoa que organizou, poxa, vc avisou que iria e ela nao se preocupeu nem em ver um local mais acessivel e muito menos em te dizer que era um local sem estrutura nenhuma pra acessibilidadE, achei uma puta falta de respeito e principalmente de companheirismo!!! To ate com raiva!!!!!!! Arghhhhhhbh

    ResponderExcluir
  6. Fácil não, hein, cara? Ainda bem que a gente não desiste nunca...

    ResponderExcluir
  7. Como me revolta esse tipo de coisa.
    Meu namorado vive passando por isso e eu fico furiosa pq as pessoas simplesmente não se preocupam com o acesso dos cadeirantes e isso inclui alguns "amigos" q acham que para vocês, não tem nada d+ serem carregados de um lado p outro.
    Mais é vida que segue ... Com muita FÉ vamos mudando, ou ao menos tentando mudar um pouco as coisas.
    PAZ E BOA SORTE !!!

    ResponderExcluir
  8. caro amigo, certas situações são para provar a nós mesmos que desistir é para os fracos não para nós... grande abraço...

    ResponderExcluir
  9. com quantas mulheres vc transou antes de lesionar a medula, e com quantas transou depois da lesão?

    ResponderExcluir
  10. Acredito que ainda irei passar por situações como essa com meu namorado. O que importa é não desistir e fazer com que gradativamente as pessoas vão entendendo a necessidade de colocar em prática questões de acessibilidade
    Abraço,
    Cibele Regina

    ResponderExcluir
  11. ola meu nome e marynalva sou da paraiba sou cadeirante queria muito ajuda pq meu maior sonho e volta a andar ja fiz 4 sirugias mais nao deu certo por favo mim ajude vcs axa que se eu fizer fizeuterapia eu vou a anda?obg bjss a tds

    ResponderExcluir
  12. maglane, não sou caderante, mas meu filho tem 16 anos e caderante, ja deixei de ir em muitas festa por causa de escadas, me sinto impotente.
    fico muito triste, as pessoas todas sem exceção tem o direito de ir e vim!

    ResponderExcluir
  13. Olá, não sou cadeirante, não tenho amigos e parentes cadeirantes, li seu blog e achei muito interessante, acho que a sociedade e o poder público se mobiliza muito pouco para viabilizar uma melhor locomoção para os cadeirantes...
    Abraços
    Andre BH

    ResponderExcluir
  14. Olá, tenho mobilidade reduzida por causa de um erro médico e uso bengalas. Trabalho no INSS e entrei como PNE. Semana passada teve a festa de confraternização e escolheram um local no 3º andar de um prédio (equivale a 3,5 andares) com acesso só por uma escada com degraus altíssimos. Não fui à festa. O engraçado é que o governo federal lançou um Programa de Acessibilidade este ano e passei por várias entrevistas e mudanças no serviço para ajudar no desempenho da função. Mas num momento desses, tenho que deixar de ir à confraternização por causa da falta de sensibilidade dos organizadores (chefes e colegas). E o pior é não receber nenhum pedido de desculpas e ouvir insinuações no sentido de que os colegas poderiam ter me subido no colo, de que a escada não é tão alta, que eu devia ter falado que não podia subir, etc.

    ResponderExcluir

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...