sábado, 3 de julho de 2010

Capote no hotel

Cheguei ao hotel Tryp Brasil 21 em Brasília e já fui confirmando na recepção: "o quarto é adaptado, né?" Ao que me sorriu positivamente o atendente, afirmando ainda que havia mais outros dois quartos adaptados. Nem pedi ajuda aos carregadores, já que minha mala estava no colo, e subi tranquilo, e ao chegar no quarto já encontrei uma incoerência: a porta é ao lado de uma viga, o que dificulta a curva de entrada e saída. Tudo bem, era só um detalhe, uma curva mais aberta não ia me atrapalhar.
O quarto é bem bacana, tem uma salinha com TV de LCD, sofá e uma mesa de estudo. E um frigobar com mini bar e um armário. Fui até a mesa de estudo, que fica ao lado do sofá, pois queria ver a vista, mas eis que a cadeira não passava entre os dois. Como nenhum dos dois se movia com empurrão, fui até o quarto pra ver se conseguia ver a janela. No quarto, mais um vacilo: camas altas demais, difíceis de subir. E no canto, um abajur alto, que contribui muito com a luminosidade, com um pequeno detalhe: para ligá-lo, basta PISAR no interruptor, como podem ver abaixo. Fala sério, heim?? Em um quarto adaptado??
Tudo bem que dá pra chegar ao lado do interruptor, se inclinar até o chão e apertar o botão, mas precisava deste esforço? Era só ter um interruptor no meio. Mas o pior estava por vir. Fui conhecer o banheiro, e já na entrada tem um ressalto, não chega a ser degrau, mas incomoda pra passar toda hora, tem que fazer uma força. O vaso não tem absolutamente nada de adaptado, nem uma barra lateral para apoio. E o chuveiro? Além de um ressalto para entrar, não tinha cadeira fixa, nem móvel, nem mesmo um chuveirinho! A única coisa que lembra remotamente uma adaptação é uma barra na altura da saboneteira. A foto ficou ruim, mas dá pra ver:
Como, então, eu iria tomar banho? Liguei pra recepção, e depois de perguntar se estava no quarto certo (adaptado pra deficiente), expliquei a situação e a recepcionista ficou de arrumar pelo menos uma cadeira pra eu tomar banho. Alguns minutos depois chega a cadeira, daquelas mais simples que existem pra banho, com rodas pequenas e braço fixo. Gente, não sei se sou só eu, mas cadeira de banho com braço fixo é um convite ao tombo. É muito difícil de entrar, mais ainda de sair, e ainda mais sozinho. Olha ela aí (e percebam o degrau para o banheiro):
Mas não tinha outra, lá fui eu tomar um desafiador banho. Primeiro coloquei a cadeira sobre a privada, posicionei a minha de rodas ao lado e fui vagarosamente escorregando até ela, até dar um saltinho e cair nela. Fiz o que tinha ido fazer e comecei a operação para ir para o box. Me empurrei pela parede até alcançar a pia. Puxei pela pia e manobrei para o lado, em direção ao box. Cinquenta e oito manobras depois consegui me posicionar dentro do box. Abri o chuveiro, daqueles que tem que temperar e já tomei água gelada no corpo. Resumindo: lavei o que pude sem chuveirinho, jogando água pra todo lado.
Aí fui sair. Sem ter como tocar a cadeira, fui puxando pela pia, jogando peso em um lado da cadeira pra sair do ressalto, até conseguir. Continuei puxando por onde consegui: pia, porta, parede ou quina. Cheguei no quarto, posicionei a cadeira bem travada e encostada na cama ao lado da de rodas e fui passar. Quando suspendi o corpo tentando sair dela e estava no meio do caminho, tentando me equilibrar em direção à cadeira de rodas, abriu-se um espaço entre as duas e fui pro chão. Por sorte caí com as pernas de lado, sem forçar as juntas, mas a porrada foi boa.
E agora, como voltar pra minha cadeira? Como a cama era muito alta, não dava pra subir. Resolvi então ir me arrastando até a sala, subir no sofá e então na cadeira. Essa hora, juro, foi a primeira vez que senti o tamanho da limitação que a paraplegia causa. Eu dava um pulo pra trás e puxava as pernas, outro pulo e as pernas de novo. E ainda empurrava a cadeira pra trás. A sensação é muito, muito ruim. Pelo menos era carpete no chão.
Cheguei ao sofá, e não conseguia subir porque a almofada era muito macia. Tirei a almofada, consegui subir, passei pra cima da outra almofada e fui tentar ir pra cadeira. Como ela é bem mais alta, foi outra luta e quase outro tombo. Fiquei muito dolorido ao final, mas consegui.
Nos outros dias, eu ia na cadeira de banho me arrastando até a sala, passava pro sofá e depois pra minha cadeira. Passava frio no caminho, dor nas transferências complicadas e ficava exausto pela dificuldade no processo. Deveria ser muito mais fácil, afinal o quarto não era adaptado? Não recomendo, se forem a Brasília, procurem outro lugar.

13 comentários:

  1. Que perrengue, em?Depois de cada banho desse, vc tava suado e sujo de novo,heheheh.Essas cadeiras, não sei de quem é a maior culpa , quem fabrica ou quem compra, é impossível se tranferir, o Milton tem que ser literalmente carregado no colo pra caber. Vc reclamou lá,né? Uma dica, quando vc perguntar se é adaptado, derem uma risadinha sem graça e uma confirmação meia boca, nem vá. Outra coisa que eles adoram é quando a gente pergunta se é adaptdo, ou eles falam que tem rampa, ou barras e quando vc chega lá elas até existem mas inacessíveis.
    beijos

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  2. Olá!!! tudo bem?

    Sempre acompanhi seu blog. Gosto de jeito e q vc escreve e encara a vida... Agora esse post me deixou revoltada com esse hotéis q acham q adaptação é uma barrinha pequena em uma parede... isso é uma vergonha, falta de respeito e cidadania com os clientes q recebem no hotel... aiiiii q raivaaaaaa!!! Queria q o gerente desse hotel se colocasse no lugar de um cadeirante apenas um dia , só para ele sentir na pele a grande "acessibilidade" que ele garante.

    Qto à vc, muito bem pelo esforço e determinação em tomar esse banho, pois se fosse eu teria desistido...


    Beijão.

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  3. Ei Sam,
    putz que ginastica heim.Olha eu não tomo banho nessas cadeiras de jeito nenhum, nem mesmo se o meu marido estiver comigo, eu a chamo de "assassina", pois qdo entrei pra essa vida de "cadeirante" foi a primeira que usei e de cara já caí, então hj que sou independente e consigo me virar sozinha não a uso em hipótese nenhuma. Sabe qual eu uso e gosto? As de plástico brancas, que normalmente é mais comum ter.Esse final de semana fui a Patos de Minas e o quarto do hotel não é adaptado mas sinceramente achei mais acessivel que muitos que encontramos por aí e "adaptado". Pedi uma cadeira para o banho e me entregaram uma de madeira, mas deu legal muito melhor que essas assassinas. rsrs
    Tente pedir uma normal da próxima vez.
    Ainda quero comer a costelinha heim.
    Beijokas
    Kenia

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  4. Oi, Sam!
    Tudo joia?
    Tenho acompanhado seu blog e gostei muito das postagens... Hotel adaptado é complicado mesmo e o engraçado é que meu namorado adora essa cadeira simples de banho. Ele só se acostumou com ela. rs. Bom, mudando de assunto...estou a procura de uma clínica de fisioterapia que tenha hidroterapia para o meu namorado. Moramos em BH também e vi que uma de suas postagens falava dessa clínica. Tem como você me passar o endereço, site ou telefone?
    Pode mandar para o meu email se quiser(marib_freire@ymail.com).
    Obrigada!
    Abraços
    Mariana.

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  5. Dificilmente um cadeirante se vira sozinho neste brasilsão, em quase tudo lugar adaptado a gente ainda precisa de algum tipo de ajuda, é foda mas é a realidade. Já pensou se vc se machuca e nao consegue sair do banheiro? ia ficar ai ate o dia seguinte qdo a faxineira entrase no quarto!!

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  6. É Sam nossos hotéis são mais ou menos assim, sempre peço cadeira plástica e agora com a M3, que tem assento rígido, qdo a altura fica ruim, retiro a almofada. Essas "cadeiras de banho" foram concebidas, creio, para pessoas doentes sendo assistidas por alguém, é impossível e perigoso utilizá-las.
    Uma vez fiquei no Ibis em São Paulo é bem legal, tem uma bancada pra banho, tudo muito dentro das normas.
    Pelo menos a altura do vaso sanitário, deveria ser padronizada.
    Sei do sentimento após tantas ginásticas, mas já passou!

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  7. Irei neste domingo agora para Brasília e ficarei 3 dias para exames no Sarah. Ficarei hospedado em hotel ou pousada mesmo, porém tenho muito receio na questão do banho e quanto ir ao banheiro. Estou pensando em pedir autorização para usar o WC do Sarah mesmo pois lá a acessibilidade para esta finalidade é garantida.

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  8. Caro Alessandro. Meu pai ficou cadeirante durante uma semana antes do Senhor chamá-lo. Até então não sabia muito bem como usá-la, e ainda não sei bem. O desafio agora será levá-la para sensibilização na Universidade. Pode me orientar? Os colegas alunos e professores irão perceber as dificuldades de ser cadeirante com o intuito de verificar a norma 9050 da ABNT sobre acessibilidade.
    Fiquei super cansado só em ler as suas descrições. Ufa!!! Parabéns por ter sobrevivido.
    Abraço.
    Carlos
    carlosinclusao@gmail.com

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  9. essas cadeiras de banho são aff nem falo nada minha vó tem trauma de banho só por causa da cadeira q são desconfortaveis

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  10. Estou tentando obter um hotel com adaptações para encontrar com meu namorado e vejo o quanto isso é dificil.

    Ele me diz "amor pode deixar já estou acostumado a me virar". Entretanto, sinto um sinal enorme de impotência de minha parte pelo desconhecimento.

    Mas, isso é só uma questão de tempo. POis pretendo com a ajuda dele e de pessoas na mesma situação a melhorarmos essas condições.

    Abraço... você é um guerreiro como tantos outros, mas alguem especial com o dom da escrita

    CibeleRW

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  11. Olá Alessandro, tudo bom?

    Estou lendo suas postagens e me identificando muito...

    Agora mesmo estava procurando por um hotel adaptado em Ouro Preto... Muito engraçado (se não fosse tão trágico)! No penúltimo que liguei me disseram que quase todos os quartos eram adaptados. Fiquei surpresa e achei melhor confirmar qual era a largura da porta do banheiro. A resposta: "60 cm senhora". Pensei: realmente muito adaptado...

    Vi que vc é aluno do CEPEAD. Fui bolsista lá por dois anos quando ainda era aluna da psicologia. Depois migrei de departamento e agora no mês passado terminei o mestrado na sociologia, aí na FAFICH, sobre a inserção de pessoas com deficiência no mercado formal de trabalho na RMBH.

    E vc, o que tem estudado?

    Grande abraço e parabéns pelos seus textos!

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  12. Ai meu Amigo Alessandro a Vida não é nada facil sou deficiente fisico tambem,mais imagine se para você que tem uma certa condição financeira bem melhor muito++ que a minha passa por essa situação,
    imagine um pobre porem nobre como eu sou, as dificuldade são monstruosas pois moro no nordeste uma cidadizinha pequena que não tem calçamento,meu maior sonho é te um carro simples para melhorar minha vida,mas tenho certeza que Deus olhar por mim e tudo vai mudar na hora certa...
    Fica com Deus Amigo...

    Daniel Leandro

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    1. É Daniel, com alguma condição financeira já é difícil, imagino sem. Mas o importante é correr atrás dos nossos sonhos, somos capazes de tudo! Abraços

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