A maior queixa dos cadeirantes é, sem dúvida, acessos para cadeira de rodas. Os mais inconformados fazem de tudo pra tentar resolver o problema, contactam autoridades, donos de estabelecimentos, recorrem à lei, ou, com eu, publicam no blog. É chover no molhado, mas temos nossos direitos e é nosso dever exigí-los.
Quando se trata de estabelecimentos comercias, restaurantes, cinemas, etc, temos que contar com a boa vontade dos donos para investir e adaptar o lugar, mas com órgãos públicos é diferente, há leis que exigem a daptação e há formas de denunciar e cobrar mudanças.
Já é um absurdo órgão público sem acesso, mas posto de saúde? Parece brincadeira. E não é só para cadeirante a necessidade de um acesso melhor, há pessoas idosas e outras que tem dificuldade de locomoção. E um local em que se supõe tratar da saúde da população não pode oferecer nenhum tipo de risco aos seus atendidos.
E este é o caso do Centro de Saúde Menino Jesus, no bairro Santo Antônio, Belo Horizonte. Não bastasse sua localização inadequada, em uma ladeira com elevado grau de inclinação, ainda tem dois lances de escada na entrada (em diagonal, pra dificultar), mais um lance na porta e ainda um corredor estreito, no qual nem mesmo entra uma cadeira de rodas. Se não fosse o único consultório em que consegui entrar, seria atendido na recepção. A situação é revoltante, e nem é porque fui prejudicado no único dia em que precisei do posto de saúde (graças a Deus tenho plano de saúde), mas pelo que presenciei lá.
Meu caso foi o seguinte: estou planejando ter um filho com minha namorada daqui a um ano e meio, dois anos. Fui informado sobre um programa desenvolvido no Hospital das Clínicas, na UFMG, que auxilia lesados medulares a realizar este sonho (em breve darei mais informações aqui). Liguei pra lá e me informaram do procedimento (outro absurdo). Eu teria que ir ao posto de saúde responsável pelo meu bairro, consultar com um médico da área, que me encaminharia ao PAM da Sagrada Família e de lá eu seria encaminhado ao Hospital das Clínicas para me inscrever no programa. Já viu burocracia mais desnecessária? Pra quem vive em uma cadeira de rodas, este processo é doloroso. Ainda mais com um posto de saúde como este.
Ligeui pro posto, que solicitou que eu fizesse um cadastro antes de me consultar. Fui sozinho ao posto, de carro, e liguei pra lá do celular explicando minha situação, da dificuldade que seria sair do carro sozinho e subir até o posto que nem rampa tinha, e pedi que pegassem comigo os documentos no carro. Tive que parar no lugar reservado para ambulâncias, pois não havia vagas por ali. Fiquei no celular mais de 15 minutos para conseguir que alguém viesse até o carro, bem em frente ao posto (na porta mesmo, a 10 metros da recepção). Enquanto aguardava (o processo todo levou uns 45 minutos) obeservei que no dia estavam distribuindo vacinas contra gripe a idosos, que chegavam a todo instante, geralmente com um acompanhante ajudando. Pessoas com bengala ou com dificuldade de andar até em pisos planos, faziam um esforço enorme para chegar ao posto para pegar uma fila enorme para conseguir a vacina. Uma senhora quase foi ao chão, se não fosse sua acompanhante. Agora vê, a pessoa precisa ir ao posto de saúde e além do esforço que faz, tem que mobilizar alguém para acompanhar, ainda assim correndo um grande risco.
Consegui marcar para o dia seguinte a consulta, mas tive que chamar minha mãe pra me acompanhar, prevendo a dificuldade. Lá chegando, solicitamos um ajudante no posto, e por sorte havia um guarda municipal por perto para ajudar (à esquerda na foto), pois só um não aguentaria. Aos trancos (e com muita dificuldade) conseguiram me colocar pra dentro, onde fui finalmente atendido e encaminhado (a médica não fez nada além de perguntas e tirou a pressão). Agora ainda tenho que esperar o PAM me ligar quando houver disponibilidade para dar sequência ao moroso processo que a saúde pública nos obriga.
Na saída, outra luta pra me colocar no carro, quase caí umas três vezes, se não me segurasse bem na cadeira tinha ido pro chão. E para entrar no carro ainda bati a cabeça e os joelhos, já que ele estava na descida.
Senhor prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda: mais atenção à saúde, por favor.
Em breve (ou melhor, daqui a um boooom tempo) mais capítulos dessa novela.