terça-feira, 28 de abril de 2009

Posto de Saúde sem acesso

A maior queixa dos cadeirantes é, sem dúvida, acessos para cadeira de rodas. Os mais inconformados fazem de tudo pra tentar resolver o problema, contactam autoridades, donos de estabelecimentos, recorrem à lei, ou, com eu, publicam no blog. É chover no molhado, mas temos nossos direitos e é nosso dever exigí-los.
Quando se trata de estabelecimentos comercias, restaurantes, cinemas, etc, temos que contar com a boa vontade dos donos para investir e adaptar o lugar, mas com órgãos públicos é diferente, há leis que exigem a daptação e há formas de denunciar e cobrar mudanças.
Já é um absurdo órgão público sem acesso, mas posto de saúde? Parece brincadeira. E não é só para cadeirante a necessidade de um acesso melhor, há pessoas idosas e outras que tem dificuldade de locomoção. E um local em que se supõe tratar da saúde da população não pode oferecer nenhum tipo de risco aos seus atendidos.
E este é o caso do Centro de Saúde Menino Jesus, no bairro Santo Antônio, Belo Horizonte. Não bastasse sua localização inadequada, em uma ladeira com elevado grau de inclinação, ainda tem dois lances de escada na entrada (em diagonal, pra dificultar), mais um lance na porta e ainda um corredor estreito, no qual nem mesmo entra uma cadeira de rodas. Se não fosse o único consultório em que consegui entrar, seria atendido na recepção. A situação é revoltante, e nem é porque fui prejudicado no único dia em que precisei do posto de saúde (graças a Deus tenho plano de saúde), mas pelo que presenciei lá.
Meu caso foi o seguinte: estou planejando ter um filho com minha namorada daqui a um ano e meio, dois anos. Fui informado sobre um programa desenvolvido no Hospital das Clínicas, na UFMG, que auxilia lesados medulares a realizar este sonho (em breve darei mais informações aqui). Liguei pra lá e me informaram do procedimento (outro absurdo). Eu teria que ir ao posto de saúde responsável pelo meu bairro, consultar com um médico da área, que me encaminharia ao PAM da Sagrada Família e de lá eu seria encaminhado ao Hospital das Clínicas para me inscrever no programa. Já viu burocracia mais desnecessária? Pra quem vive em uma cadeira de rodas, este processo é doloroso. Ainda mais com um posto de saúde como este.
Ligeui pro posto, que solicitou que eu fizesse um cadastro antes de me consultar. Fui sozinho ao posto, de carro, e liguei pra lá do celular explicando minha situação, da dificuldade que seria sair do carro sozinho e subir até o posto que nem rampa tinha, e pedi que pegassem comigo os documentos no carro. Tive que parar no lugar reservado para ambulâncias, pois não havia vagas por ali. Fiquei no celular mais de 15 minutos para conseguir que alguém viesse até o carro, bem em frente ao posto (na porta mesmo, a 10 metros da recepção). Enquanto aguardava (o processo todo levou uns 45 minutos) obeservei que no dia estavam distribuindo vacinas contra gripe a idosos, que chegavam a todo instante, geralmente com um acompanhante ajudando. Pessoas com bengala ou com dificuldade de andar até em pisos planos, faziam um esforço enorme para chegar ao posto para pegar uma fila enorme para conseguir a vacina. Uma senhora quase foi ao chão, se não fosse sua acompanhante. Agora vê, a pessoa precisa ir ao posto de saúde e além do esforço que faz, tem que mobilizar alguém para acompanhar, ainda assim correndo um grande risco.
Consegui marcar para o dia seguinte a consulta, mas tive que chamar minha mãe pra me acompanhar, prevendo a dificuldade. Lá chegando, solicitamos um ajudante no posto, e por sorte havia um guarda municipal por perto para ajudar (à esquerda na foto), pois só um não aguentaria. Aos trancos (e com muita dificuldade) conseguiram me colocar pra dentro, onde fui finalmente atendido e encaminhado (a médica não fez nada além de perguntas e tirou a pressão). Agora ainda tenho que esperar o PAM me ligar quando houver disponibilidade para dar sequência ao moroso processo que a saúde pública nos obriga.
Na saída, outra luta pra me colocar no carro, quase caí umas três vezes, se não me segurasse bem na cadeira tinha ido pro chão. E para entrar no carro ainda bati a cabeça e os joelhos, já que ele estava na descida.
Senhor prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda: mais atenção à saúde, por favor.
Em breve (ou melhor, daqui a um boooom tempo) mais capítulos dessa novela.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Lazer pra cadeirante: navio de cruzeiro



Para driblar as dificuldades costumeiras de acesso, banheiro e adaptações em geral, os cadeirantes se vêem obrigados a buscar alternativas que facilitem a realização das atividades diversas, incluindo aí o lazer. Afinal de contas, qualidade de vida está ligada diretamente a lazer.
Já escrevi sobre os problemas na hora de viajar, da necessidade de planejar e procurar informações sobre os lugares com antecedência, mas mesmo assim somos surpreendidos muitas vezes e frustramos uma série de programas. O ideal seria sabermos com antecedência todos os lugares adaptados na cidade de destino, e o guia brasil para todos tem este objetivo.
Há uma alternativa, porém, que consegue unir o útil ao agradável e ainda minimiza o esforço do cadeirante, afinal, quando viajamos algumas horas de carro, ou ainda o desconforto de fazer várias transferências na viagem aérea, nos deixa exaustos e demanda boas horas de descanso antes de fazer qualquer outro programa. São os cruzeiros de navio, que apesar do estigma de serem programa de elite, vem barateando muito nos últimos anos, com a queda do dólar e a concorrência. E ainda podem ser parcelados em várias vezes, ficando em menos de cem reais por mês. Mas será que valem o que custam?
Para um cadeirante, por experiência própria, digo que valem. Mesmo quando colocamos na ponta do lápis, se considerarmos o custo de transporte, estadia em hotel, refeições em bons restaurantes e ingressos diversos (teatro, cinema, shows), fica muito mais cara a viagem por terra. Para quem não mora em cidade litorânea, basta ir para a cidade do porto um dia antes da partida e sair descansado no dia seguinte.
Dentro do navio há dezenas de opções de lazer, além dos animadores, que não deixam ninguém parado e criam uma série de atividades divertidas. A rotina nestes cruzeiros geralmente inclui atividades na piscina durante o dia com música ao vivo, jantar em excelentes restaurantes (de nível internacional), shows à noite e boate de madrugada. Sem contar as alternativas sempre à disposição, como academia, quadras de esportes, salão de jogos, cinema, piano bar e até cassino, que pode funcionar quando o navio está navegando. E ainda tem as paradas em diversas cidades litorâneas, deixando o dia todo para visitação.
E tudo adaptado para cadeira de rodas. Os quartos específicos para deficiente são amplos, com banheiro totalmente adaptado, há elevadores para todos os andares e os corredores são bem largos. Para os locais que naturalmente são mais difíceis, como piscina e jacuzzi, é só acionar os animadores que eles te carregam.

Os shows são excelentes, com artistas de alto padrão, às vezes depois do show principal da noite tem um show de humor, tem também uma noite com o comandante, em traje de gala, sem falar no cassino, como é divertido brincar naquelas máquinas caça-níqueis! Outra coisa que impressiona é a quantidade de comida disponível, pra todo lado tem uma opção, se não ficar esperto a gente engorda uns bons quilos num cruzeiro destes. Mas se tem uma coisa que parece de filme é o visual em alto mar, o sol se pondo, as ilhas, a costa, aquele marzão e as outras embarcações, que ficam parecendo de brinquedo vistas do alto de um navio destes. Vale o investimento.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Melhores lugares adaptados pra sair em BH


Um dos maiores desafios na reabilitação de um cadeirante é voltar a frequentar os lugares que estava acostumado a ir. Acho que essa é a maior queixa dos cadeirantes, dificuldade de acesso. Para quem mora em um grande centro, uma cidade de pelo menos 300 mil habitantes, geralmente conta com dezenas de lugares adaptados. Mas quem mora no interior... não quero nem pensar.
Mesmo aqui em Belo Horizonte tem muito lugar inapropriado, que mesmo sendo adaptado, ainda oferece muitos obstáculos, como vaga pra deficiente longe e declive acentuado da rua. Às vezes o lugar é ótimo, espaçoso, com rampa, mas pra chegar lá tem que subir uma pirambeira, em calçada cheia de burracos, com uma cadeira de rodas é terrível.
Alguns lugares tem que ser adaptados por lei, como os cinemas. Mas infelizmente eles reservam as primeiras fileiras para colocar os espaços reservados aos cadeirantes. A não ser uma sala aqui em BH que fez diferente, colocou os espaços na última fileira. São os cinemas do Diamond Mall. Mas é só levar o binóculo...
Vou listar os lugares que na minha opinião são os melhores, considerando facilidade de estacionar, acesso pela rua e qualidade do lugar. Em se tratando de cinema e restaurante, os localizados em shoppings sem dúvida são os melhores, têm vagas pra deficiente bem localizadas (apesar de, ainda que sendo 'vigiadas' por funcionários, tem gente 'normal' que usa), elevadores e rampas em todos os estabelecimentos. Há também lugares que nunca fui, e se puderem contribuir agradeço.

- CINEMA: Cinemark, no Pátio Savassi, Av. do Contorno , 6061. Telefone (31) 3288-3205
Tela de projeção gigante, vagas para deficiente em todos os andares, locais reservados após a quarta fila.
- BAR: Pinguim, na rua Grão Mogol, 157, Carmo Sion. Telefone: (31) 3282-2007
Estacionamento com serviço de manobrista, rampa móvel, preferência para mesa e chopp delicioso.
- TEATRO: Sesi Minas, na rua Padre Marinho, 60. Telefone (31) 3241-7181
Local plano para estacionar, vaga de deficiente próxima, locais reservados em boa posição, no meio da platéia.
- RESTAURANTE: Parrila, no Pátio Savassi; Av. do Contorno, 6061. Telefone (31) 3288-3181
Excelente cozinha, acesso para deficiente por elevador e rampa, atendimento nota dez.

Ainda no ramo de entretenimento cito o Mineirão, pra quem gosta de futebol, tem estacionamento próprio (exigem credencial de carro de deficiente, expedido pela BHTrans), acesso pelo hall principal e local reservado. Porém, os locais reservados não tem cadeira perto, são do tipo 'baia' daquelas em se que põe cavalos (meio depreciativo isso). O melhor lugar pra assistir no nível dos reservados tem escadas, geralmente peço ajuda e desço até o local, bem no meio do campo e com boa visibilidade, e ainda possibilita ficar próximo ao acompanhante (geralmente meu pai, é importante pra discutir os lances).
Entre os botecos, gosto muito do Amarelinho, na Av. Prudente de Morais, 920, que, apesar de não ser bom pra estacionar, vale o sacrifício. E também da República da Esbórnia, na Av. Mário Werneck, 789, Buritis. Tem estacionamento na frente, mas lota rápido, na avenida tem bons lugares em terreno plano.
Dos restaurantes, outros que gosto são o Pizzarela na Av. Olegário Maciel, 2280, que também é difícil pra estacionar, e o Outback, no Pátio Savassi.
No fim das contas, em grande parte dos programas ficamos restritos aos shoppings, mas felizmente contamos com lugares de alta qualidade e preços razoáveis.

domingo, 19 de abril de 2009

Guia turístico voltado para deficientes


A primeira vez que fui viajar a lazer depois de ficar paraplégico, foi para ser padrinho de casamento de um grande amigo em Vitória. Imaginei que seria fácil conseguir um hotel com adaptação e me locomoveria com facilidade em taxis (feio isso heim) maiores, por se tratar de uma capital de estado. Qual foi minha surpresa ao procurar um hotel, após diversas buscas na internet e ligações, achei UM hotel mais próximo do casamento (mesmo assim era beeem longe).
Fiz a reserva, comprei as passagens aéreas e fui com minha namorada no sábado, dia do casamento. Chego ao aeroporto de Vitória, e lá vou eu buscar um táxi com bom porta-malas. Mais uma surpresa: só tinha carro pequeno, e o único com porta-malas decente era um corsa sedan. Me apertei pra conseguir entrar e ajustar minhas pernas, enquanto minha namorada e o taxista tentavam encaixar a cadeira e as malas lá atrás. Nada feito, malas e namorada no banco de trás.

O hotel era muito bom, na praia da penha, tinha um elevador bem grande e o quarto era excelente, com banheiro amplo e adaptado. Mas eis que no meio da tarde deu um 'apagão' no hotel e acabou a energia. Lá vou eu acionar tudo quanto é empregado do hotel pra me carregar escada a baixo. Fora o medo de cair, pois apesar de serem três caras, nunca fizeram isso. Mas acontece... e o hotel bem podia ter gerador. Fui dar uma volta pela cidade, apesar de já conhecê-la, mas minha namorada não. Tentei lembrar de alguma atração turística, mas tudo que me vinha à cabeça tinha escada ou ladeiras íngrimes (como o convento da Penha). Senti falta do meu notebook, pra buscar algum lugar e saber se é adaptado, ou um guia turístico.

Mas, como diz o caceta e planeta, seus problemas acabaram! Foi lançado recentemente o Guia Brasil Para Todos, escrito por Andrea Schwarz - cadeirante desde 1998 por uma malformação congênita na medula espinhal - Fonoaudióloga formada pela USP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), há dez anos atua na área de responsabilidade social, com foco na inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. E seu marido Jaques Haber, formado em Publicidade e Marketing, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Nesta primeira edição do guia, com 320 páginas, é possível encontrar o que há de melhor para visitar em dez capitais brasileiras, sempre sob o ponto de vista de um viajante. O guia conta também com de dicas de viagem, além de trazer uma série de perguntas para servir de orientação ao deficiente sobre os serviços de acessibilidade oferecidos.
A versão on-line já está acessível, não deixe de acessar e por o pé na estrada (ou melhor, as rodas).

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Possível 'substituta' da cadeira de rodas

Vez ou outra aparecem 'soluções' mais modernas ou eficientes do que a velha cadeira de rodas. A empresa Exmovere anunciou este mês mais um aparato que promete melhorar a qualidade de vida dos cadeirantes, amputados ou pessoas com dificuldade de locomoção.
O veículo elétrico, chamado de 'Chariot' (carruagem) é uma espécie de Segway (aqueles patinetes elétricos de rodas paralelas) adaptado ao corpo do usuário, que 'veste' o aparelho ficando com as mãos livres para executar tarefas diversas. Ele é controlado por sensores que detectam suaves mudanças de pressão do corpo e interpretam a direção e velocidade desejadas. Atinge até 20 km/h e não demanda muito esforço ou treinamento para controlá-lo.
A grande vantagem para a cadeira de rodas é poder conversar com os 'andantes' no mesmo nível e alcançar lugares mais altos. Entre as desvantagens, ele não permite ao usuário sentar sem tirá-lo (mas já estão desenvolvendo um que poderá), não sobe escadas e demanda um piso liso e sem buracos (ligeiramente longe da nossa realidade). E também não é a coisa mais simples do mundo para 'vestir', um cadeirante sozinho então, nem pensar.
Sem contar que ainda é protótipo, e até ser fabricado, ou melhor, até ser acessível, vão bem uns dez anos. Mas paciência é uma virtude...


terça-feira, 14 de abril de 2009

Sobre o atendimento prioritário e a vida em sociedade

É muito comum vivermos uma situação ou termos presenciado em alguma empresa pública ou privada a demora e dificuldade no atendimento às pessoas idosas, portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida*. Estas pessoas, cujo atendimento prioritário é assegurado por legislação federal**, sendo portanto cabível sanções administrativas, cíveis e penais por infração ao artigo 5º*** da referida legislação, frequentemente são ignoradas por aqueles que deveriam prestar o devido atendimento ou por outros que ocupam seu lugar na fila mas simplesmente fingem que “não sabiam” ou “não viram” que uma pessoa idosa, gestante ou cadeirante estava ali e tem prioridade de atendimento. Eu já presenciei e vivi esta situação e devo dizer que isto me causa um extremo desconforto, tanto pelo fato de estas pessoas estarem protegidas pela lei e terem seu direito agredido, quanto pela simples constatação de que a maioria das pessoas não demonstra um mínimo de educação e respeito para com os outros. Isto para mim não é só uma questão de legal ou ilegal, é principalmente uma questão de educação e respeito. Se nós queremos viver em sociedade, se queremos compartilhar nossa experiência e construir uma coletividade de respeito mútuo, devemos ser os primeiros a dar o exemplo. Não basta reclamar desse ou daquele governo, dessa ou daquela empresa, é preciso mudar o mundo já, começando por dar o exemplo neste momento, respeitando o direito dos outros e exigir para ser respeitado. O simples fato de uma pessoa transitar em uma via pública com o som do carro no volume mais alto já é uma agressão à coletividade que faz uso daquele espaço, você tem de parar de conversar com alguém para o tal carro passar e isto já é um tipo de agressão, o seu direito de liberdade**** foi violado. Se prestarmos atenção às coisas mais básicas de que precisamos e procurarmos melhorar isto para o bem da coletividade, outras pessoas perceberão o bom exemplo sendo dado e assim também o farão. Acreditem que um mundo melhor é possível.
* Pessoa com mobilidade reduzida: pessoa não-portadora de deficiência, mas que tenha, por qualquer motivo, dificuldade de movimentar-se, permanente ou temporariamente, gerando redução efetiva da mobilidade, flexibilidade, coordenação motora e percepção.
**O Decreto Federal n. Nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004, regulamenta as Leis nos 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências.
*** O Decreto Federal n. Nº 5.296, art. 5º: “Os órgãos da administração pública direta, indireta e fundacional, as empresas prestadoras de serviços públicos e as instituições financeiras deverão dispensar atendimento prioritário às pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida.”
****Constituição Federal de 1988, art. 5º: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.”
Contribuição de Bruno Ribeiro Fernandes - Doutorando em arquitetura pela USP, professor da disciplina "Normas de Acessibilidade e Urbanismo" do curso de Pós-graduação Lato-sensu em Acessibilidade na Universidade Nove de Julho (Uninove).

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Reatech V - Diversos

Como era de se esperar, haviam vários lançamentos de cadeiras de rodas, desde super leves até totalmente motorizadas, com controle pela boca, e coisas do gênero. Mas o que achei legal mesmo e tive vontade de comprar foi esse Handcycle acima. Deve ser muito gostoso pedalar com as mãos, e ainda poder ir a lugares com terreno acidentado, que as cadeiras de rodas tradicionais não vão. Tinha vários rodando pela Reatech e no stand da Tokleve/Ortobras, mas pra variar o preço é salgadinho.
Outra coisa que me chamou a atenção, voltado também para o lazer, foi o Kart adaptado, com controles manuais como os dos carros. Estava presente lá o campeão brasileiro desta modalidade, de boné branco na foto abaixo. Mais uma alternativa legal e 'inclusiva' - entre aspas pois não é todo mundo que consegue competir nem correr por lazer. Mas a iniciativa é muito interessante, eu já corri muito de kart e gostava da brincadeira. Se as empresas que mantém pistas para corridas recreativas investissem nisso haveria público, possibilitando até a competição com gente 'normal'.
No mundo das cadeiras de rodas, haviam muitos lançamentos, o principal deles no stand da Ortobras foi a M3, a cadeira mais leve e prática do mercado. Entre as motorizadas nada de muito novo, os preços continuam salgados (de 5 a 10 mil) mas contam com planos de pagamento em várias parcelas. Algumas cadeiras parecem até mini scooters, tem farol, cesta, buzina, etc, mas seu tamanho não permite o transporte em veículo (a não ser picape), portanto são indicadas para espaços amplos. Mas são bem bonitinhos, na hora imagino uma simpática velhinha dirigindo com alegria no condomínio...
Haviam também vários stands pequenos, com projetos de inclusão, massageadores, e até blogueiros, como o Evandro do Tocando a vida sobre rodas, grande figura, com suas camisetas bem humoradas. Minha namorada já está desfilando com a dela!

Reatech IV - Esportes e pet terapia

Que a prática de esportes só traz benefícios ao corpo e à mente, todo mundo sabe. Para o deficiente físico é ainda mais, é inclusão e sentir-se ativo e capaz de vencer desafios. Todo cadeirante que eu conheço que se dedica a alguma atividade esportiva conta com prazer o quanto esta atitude mudou sua vida, trazendo mais bem estar, contribuíndo inclusive para melhora das funções do corpo.
A ADD (Associação Desportiva para Deficientes) agitou a Reatech com a quadra ADD Sport Arena, onde aconteceram campeonatos e exibições de esporte adaptado, como basquetebol e futsal. Além das modalidades já consagradas, houve divulgação e incentivo de outras práticas como o frisbee e o rugbi adaptado. A arena também abrigou a II Copa de Futsal Surdos Grupo Evolução, o campeonato de futebol com deficientes visuais, handebol em cadeira de rodas, rugbi adaptado e diversos jogos amistosos.
Outro destaque da Reatech foi a fazendinha que tinha diversos animais como coelhos, cães, cabras e até cavalos para equoterapia. Foram ministradas palestras e explicações sobre a interação dos animais com pessoas com deficiência.
A pet terapia é feita com animais como o cachorro, coelho, jaboti, cabra, ovelha e pássaro. A Terapia Assistida por Animais é um método terapêutico e educacional voltado para reabilitação e educação, proporcionado ganhos motores e psicológicos. Indicada para pessoas com deficiências, necessidades educativas especiais ou com distúrbios comportamentais, a técnica estimula a aprendizagem, compreensão, memorização, equilíbrio e concentração; trabalha ainda a auto-estima, cooperação, confiança, tomada de decisão, socialização e espírito de grupo; além da reeducação postural (principalmente no caso do cavalo).

Reatech III - Espaços públicos

O maior obstáculo que um cadeirante enfrenta ao tentar levar uma vida "normal", na minha opinião, é sair sozinho na rua e chegar sem ajuda ao destino. Por mais perto de casa que seja, na grande maioria das vezes encontramos os mais diversos obstáculos, desde degraus na calçada a inclinações perigosas.
Mas nem tudo está perdido, a cada dia saem leis que exigem dos estabelecimentos acessos adaptados e as prefeituras trabalham (depois de muita reclamação) para tornar as ruas "viáveis" aos que tem limitações de locomoção. O pior mesmo é quando, apesar de haver acessos, as pessoas 'normais' estacionam seus veículos em frente às rampas e acessos, ou ainda ocupam as calçadas com os mais diversos obstáculos. Neste sentido me impressionou o Projeto PróRampas, desenvolvido pelo Instituto UniGente e pela empresa Via Urbana, com o aval do Governo da Paraíba. O projeto é tão bem bolado que conta com sinalização aérea e um poste com placas indicativas e para uso de propagandas de empresas (foto acima). Parte do dinheiro arrecadado com este serviço é destinado às associações de portadores de deficiência.
Outra iniciativa importante é feita pela Prefeitura de São Paulo, que tem um intenso programa municipal de adaptação e inclusão do deficiente. Contando com uma secretaria específica para este fim, a Prefeitura de São Paulo elaborou um compêndio listando as Políticas Públicas para Pessoas com Deficiência e Mobilidade Reduzida, que contempla diversas deficiências e diversas áreas, como cultura, esporte e trabalho. Um exemplo a ser seguido pelas demais prefeituras brasileiras, ou pelo menos pelas capitais e governos estaduais, que podem efetivamente implantar ações pró-deficientes em todos os municípios. Vaja mais no link abaixo:
São Paulo também é a primeira cidade brasileira com serviço de Táxi adaptado, um Dobló com elevador para cadeira de rodas, exposto no canto direito da foto acima. Isto é muito importante para quem não tem carro, e acredito que em pouco tempo outras capitais disponibilizarão serviço semelhante. Já andei de taxi aqui em Belo Horizonte, mas foi muito incômoda a transferência e o taxista teve grande dificuldade em desmontar e guardar a cadeira no porta-malas. Mais informações e fotos: www.taxiacessivel.com.br.
Entre os equipamentos para possibilitar o acesso de cadeirantes a locais não adaptados, me chamou a atenção a esteira que sobe escadas. Sem saber que estaria na feira, eu utilizei uma destas logo que cheguei a São Paulo, no aeroporto de Congonhas. Como o movimento lá é muito grande, às vezes é necessário desembarcar por escadas, e o aparelho resolveu o problema para que eu desembarcasse. Nas fotos acima, eu sendo desembarcado em Congonhas e a esteira exposta na feira, que descobri depois se chamar Stair-trac (http://www.ortobras.com.br/garaventa_stair.html). Não é um equipamento barato, mas vale o investimento de empresas que, além de ampliar sua gama de clientes, ficam bem vistas pela sociedade com esta atitude de Responsabilidade Social. Cabe a nós cobrar dos governos e empresas ações como estas.

Reatech II - Adaptações em carros

As principais montadoras do país marcaram presença na Reatech mostrando os próximos lançamentos e as adaptações mais avançadas do mercado. A adaptação mais comentada foi o banco que gira e sai do carro, em vários modelos (foto acima). Desde o mecânico que gira e avança para facilitar a trasferência até o elétrico, que gira, sai do carro e ainda abaixa, este mostrado em uma SUV da Toyota (foto abaixo). A grande vantagem é que podem ser utilizados como cadeira motorizada, desengatando do carro e encaixando na base motorizada, possibilitando ao cadeirante sair por aí no conforto de um banco de automóvel. O único porém de todos estes bancos é que só servem para o banco do passageiro, mas um dos expositores me garantiu que estão desenvolvendo o do motorista.
Não faltaram também os elevadores e guindastes. Os elevadores tem a vantagem de levar a cadeira sem desmontar ao interior do veículo, que conta com espaços amplos, travas e até cintos de segurança. Alguns levam várias cadeiras, como o da foto abaixo. Porém só servem para veículos grandes, de vans pra cima, mas não vi nenhum que levasse a cadeira até o lugar do motorista, o que já é uma realidade no exterior.
Os guindastes facilitam para colocar no carro cadeiras motorizadas, que tem um peso significativo, porém demanda uma segunda pessoa para auxiliar no processo. Me impressionou ver carros pequenos, como o Linea, com esta adaptação no porta-malas. Mas o ideal mesmo é um carro grande, com espaço suficiente para o guindaste e a cadeira, como visto abaixo.
A melhor novidade, do meu ponto de vista, foram os lançamento que a Fiat reserva para o próximo mês. Serão lançados o Palio e o Siena com o câmbio automatizado dualogic. Para quem acha os veículos automáticos à disposição no mercado nacional caros (e são mesmo), serão uma excelente alternativa. Principalmente o Siena, que tem um porta malas muito espaçoso, cabe a cadeira e ainda sobra espaço.
Haviam também alternativas muito interessantes para aceleração e frenagem manuais, como no Siena da foto acima, que posibilita a aceleração sem tirar as mãos do volante. Agora é só aguardar os lançamentos que irão viabilizar os deficientes Brasil afora a saírem motorizados e ganharem essa importante liberdade de locomoção.

Reatech I - Casa modelo

A reatech é a referência em tecnologia de reabilitação, como o nome diz, e a partir de hoje publicarei minhas impressões da feira. Em continuidade ao post anterior, a casa modelo de acessibilidade faz o que promete, mas todo cadeirante sabe as necessidades de espaço em casa. Os principais pontos de estrangulamento são entradas, largura das portas e banheiro. Na imagem acima a entrada principal, com nossa tão querida rampa e ainda relevo tátil para cegos. A porta de entrada, assim como todas as internas, devem ter 90 centímetros de largura. E deve haver um espaço razoável para fazer as 'curvas' para cada cômodo.
O banheiro, com as barras necessárias para as transferências. O mais importante é a porta de entrada, não vi até hoje um apartamento com um banheiro que dê para entrar uma cadeira de rodas. Muitas vezes nem é possível adaptar, alargar a porta, pois há uma viga, armário ou bancada de pia no caminho. A solução é a cadeira de banho, mais estreita, porém geralmente não dá pra tocar sozinho.
O layout (em bom portugês, leiáuti) da casa, bem ampla, com três quartos, cozinha, sala e banheiro. A parte mais importante, ao meu ver, é o hall central, onde está o desenho de um cadeirante. Ali é possível girar em todas as direções para entrar nos cômodos. É o mais difícil de encontrar quando é necessário alugar uma casa ou apartamento.
A casa é muito bem montada, segue os padrões corretos, mas convenhamos que foge um pouco da realidade da grande maioria de nós. Poucos tem condição para adaptar ou construir uma residência nos moldes ideais, na maioria das vezes vamos mesmo é alugar um local mais adequado ou adaptar a residência que dispomos, própria ou alugada.
Considerando esta limitação, o que realmente chamou minha atenção foram os gráficos de medidas, mostrando as necessidades mínimas de espaço em uma casa para a locomoção de cadeira de rodas. O gráfico acima é do hall central, entre os cômodos.
Acima, as medidas necessárias para os comandos elétricos.
Finalmente, o grau de visão (pontilhado externo) e alcance (pontilhado interno) de quem está em uma cadeira de rodas.
De posse destas medidas, o cadeirante não precisa nem se deslocar muito ao buscar um apartamento ou casa para alugar, basta pedir a alguém que leve uma fita métrica aos locais de interesse para realizar as medições necessárias e procurar saber sobre a possibilidade de adaptação, pois grande parte dos proprietários de imóveis não deixa mexer nos mesmos. A solução, algumas vezes, é negociar sobre a adaptação, e depois de acertado o contrato, realizar as mudanças, sabendo que quando for devolver o imóvel elas devem ser desfeitas. Foi assim que consegui alugar o apartamento onde moro, minha namorada saiu com uma fita métrica na bolsa, fechamos o que mais se adequava e alteramos somente a porta do banheiro.

sábado, 4 de abril de 2009

Casa modelo de acessibilidade

A Reatech já abriu as portas e estou indo hoje pra São Paulo dar uma conferida nas novidades (depois de batizar meu sobrinho domingo de manhã). Adiantando, meu irmão, que faz doutorado na USP em arquitetura e dá aula na Uninove de acessibilidade, me mandou o link da casa que está exposta lá e é perfeita para cadeirantes. Segue o link, vale a pena a leitura, e semana que vem coloco aqui minhas impressões.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Rampas de acesso à calçada (aqui em Minas, passeio)

Se tem uma coisa que irrita mais um deficiente na cidade do que utilização de vaga reservada por pessoa não deficiente é o bloqueio das rampas de acesso por carro. Li no blog "Assim como você" o relato revoltante do Jairo sobre um "espertinho" que estaciona TODO DIA seu carro em frente a uma rampa de acesso em São Paulo (foto acima). Nos comentários dá pra sentir o quanto as pessoas se irritam com isso.
Eu passei por isso recentemente, fui levar o sobrinho da minha namorada ao zoológico, e logo ao chegar perguntei ao atendente da guarita onde tinha vaga exclusiva e o "delicado" respondeu "tá cheio de placa por aí." De fato havia várias placas, vários locais exclusivos ao longo do zoo, mas não custava ao infeliz me indicar a mais bem localizada, perto das principais atrações, principalmente porque o lugar é enorme, cheio de morros e jaulas em elevações. Tudo com acesso, bonitinho, até que a pessoa resolva atravessar a rua. Vi somente uma ou duas rampas não bloqueadas por carros. Nessa hora uns dizem "é gente simples, não faz por mal, deve ser falta de informação". Não conheço muita gente simples que tem um Fusion nem um Corolla, dois "exemplos" estacionados em frente às rampas.
Isso é um problema complicado, a pessoa que vê isso pode ligar para a empresa de transporte da cidade (BHTrans aqui em BH) e denunciar, eu mesmo faço muito isso, mas nunca o pessoal chega a tempo de multar ou (muito menos) rebocar o infrator. A maioria diz que não viu que tinha a rampa, já que ela fica do lado do passageiro, escondida no meio fio, difícil de visualizar. Uma solução interessante, pelo menos pra ficar mais visível, achei no site da cidadede São Miguel do Tapuio, cidade de menos de 20 mil habitantes no Piauí, e deveria ser copiada pelas demais cidades brasileiras. Veja só os acessos de lá:
Pelo menos acabaria com a desculpa do "não vi", e acredito que fará o "espertinho" pensar duas vezes, pois a exposição é muito maior. Mas o que falta mesmo é vergonha na cara do sujeito que para o carro em frente à rampa. Outra desculpa que ouço é "quase ninguém usa, pode ver durante o dia quantas vezes a rampa é utilizada". Mas pergunta pra ele se pararia em frente a uma rampa de garagem? Usa muito pouco, tem dias que nem é usada, mas HÁ a necessidade, pois num determinado momento será útil, e a pessoa não se beneficiará de um DIREITO seu.
O negócio é respeitar pra ser respeitado.

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